sexta-feira, 13 de julho de 2012

Descobrindo antígenos no xixi



A leishmaniose visceral (LV) é uma doença parasitária grave e letal causada por Leishmania donovani na Ásia e por L. infantum-chagasi no sul da Europa e na América do Sul.  A LVé endêmica em 47 países com umaincidência anual estimada em 500 000 casos. Esta alta incidência é devido, em parte à falta de uma vacina eficaz.
Neste trabalho, os autores apresentam uma abordagem bastante inovadora para a descoberta de antígenos do parasita, candidatos a vacina. A hipótese desta abordagem reside no fato de que os antígenos do parasita são produzidos ativa e continuamente durante a doença, sendo liberados nos fluidos corporais e, portanto, constituindo bons antígenos candidatos ao desenvolvimento de vacinas.

O fluido corporal utilizado foi a urina. A escolha foi baseada na premissa de que as proteínas ou seus subprodutos (peptídeos), produzidos in vivo, por exemplo no baço/fígado/medula óssea chegariam na circulação sanguínea do hospedeiro e, posteriormente, seriam excretados na urina do paciente. Seguindo esta premissa, os autores utilizaram RP-HPLC e Espectrometria de massa para caracterizar a urina de sete pacientes com LV. A caracterização os permitiu identificar a presença de três proteínas de Leishmania: L. infantum chagasi iron superoxide dismutase, L. infantum chagasi tryparedoxin and L. infantum chagasi nuclear transport factor 2 (Li-ntf2).

Os autores então focaram o restante do trabalho na proteína Li-ntf2. A partir daí, os experimentos realizados não são novidade para quem estuda/trabalha com o desenvolvimento de vacinas. O gene que codifica a Li-ntf2 foi clonado e a proteína foi expressa em E. coli. A proteína recombinante foi formulada com o adjuvante MPL. Neste estudo, o MPL utilizado (BpMPLA-SE) é derivado do LPS de B. pertussis, o qual contém esqualeno e um surfactante que facilita a formação de emulsões. A imunização resultou em uma resposta Th1, com a presença de células produtora de IFN-g. Os camundongos imunizados (3x com intervalos de 3 semanas, via s.c.) com a proteína + o adjuvante foram então desafiados com parasitas vivos, via intra venosa.  Resultado: a vacinação com Li-ntf2/MPLA foi capaz de reduzir a carga parasitária significativamente.

Os resultados precisam ser reproduzidos em grupos maiores de animais, com outras estratégias de vacinação/desafio. De qualquer maneira, os resultados obtidos validam a estratégia de descoberta de antígenos empregada no trabalho. Sugere-se que uma estratégia similar poderá ser utilizada em outras doenças.

ResearchBlogging.org Kashino SS, Abeijon C, Qin L, Kanunfre KA, Kubrusly FS, Silva FO, Costa DL, Campos D Jr, Costa CH, Raw I, & Campos-Neto A (2012). Identification of Leishmania infantum chagasi proteins in urine of patients with visceral leishmaniasis: a promising antigen discovery approach of vaccine candidates. Parasite immunology, 34 (7), 360-71 PMID: 22443237

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