quinta-feira, 1 de março de 2012

Mortalidade global pela malária entre 1980 e 2010


ResearchBlogging.org
Post de Vitor R R de Mendonça
Em 2011 o secretário geral da ONU traçou a meta de reduzir as mortes por malária a zero em 2015. Além disso, o investimento financeiro nesta doença aumentou de U$149 milhões em 2000 para quase U$1-2 bilhões em 2008. Desta maneira, é importante ter uma estimativa aproximada do número de mortes por malária ao longo do tempo para ter o retorno da eficácia dos investimentos e futuros financiamentos. Recentemente publicado no The Lancet, Murray e cols propõem através de uma análise sistemática estimar a mortalidade por malária entre 1980 e 2010, trabalho este financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates. 
Os autores usaram um grande banco de dados que incluíram dados de registro vital (o que é isto? veja aqui ) e estudos de autópsia verbal (o que é? aqui) publicados e não publicados para desenvolver modelos empíricos de mortalidade por malária de acordo com a idade, gênero e país, de 1980 a 2010. Neste período, as mortes por malária aumentaram de 995,000 em 1980 para um pico de 1,817,000 em 2004. Em 2010 foram 1,238,000 mortes, uma redução de 32% desde 2004. A maioria das mortes em todas as faixas etárias ocorreu no oeste, leste e África central. No sul e sudeste asiático, as mortes em crianças <5 anos diminuíram desde 1980 e representaram uma pequena proporção em 2010. Em contraste com essa tendência, morte em indivíduos >5 anos na Ásia contou por uma grande proporção das mortes por malária nesta faixa etária em 2010.
Murray também apresentou em seus resultados a estimativa detalhada por país do número de mortes por malária e a probabilidade cumulativa de morrer pela doença na ausência de outra causa de morte de acordo com a faixa etária para os anos de 1980, 1990, 2000 e 2010. No que se refere ao Brasil, o número de mortes diminui de 955 em 1980 para 117 em 2010, com uma redução também na probabilidade de morrer de 0,7% em 1980 a <0.1% em 2010. De todas as mortes por malária, uma pequena proporção ocorreu nos 15 países com somente a espécie Plasmodium vivax. Em 1980 foi estimado 751 mortes por esta espécie e em 2010 apenas 9 mortes, e um total cumulativo de 5169 mortes. Vale ressaltar que o Brasil, assim como outros países, não entraram nessa análise já que apresentam ambas as espécies do plasmódio, então os dados mostrados não representam o número real de mortes por P. vivax. 
Apesar das mortes por malária em crianças contarem pela maioria das mortes, o número de mortes em adultos é alto. Mortes em indivíduos com 15-49 anos, 50-69 anos e maiores de 70 anos corresponderam por 20%, 9% e 6% das mortes em 2010, respectivamente. Através de uma análise detalhada incluindo dados de 1920-1980 e a mortalidade hospitalar fornecida diretamente por oito ministros da saúde, percebeu-se que esse número é ainda maior em indivíduos >15 anos (58% na África subsaariana, 76% na Ásia e 69% nas Américas), com exceções aos países fora da África subsaariana com altas taxas de transmissão. Isso vai de encontro com o conhecimento tradicional que argumenta que a imunidade adquirida em áreas hiperendêmicas não levaria adultos a morrerem por malária. 
Os achados do trabalho citado demonstraram mais mortes em todas as idades e regiões do que o “World Malaria Report 2011” em 2010: 1.3x maior para crianças <5 anos na África, 8.1x maior em aqueles >5 anos na África e 1.8x maior para indivíduos de todas as faixas etárias fora da África. Desde o pico global de 2004, provavelmente como resultado da resistência à cloroquina, tem sido visto uma diminuição acentuada de mortes devido às atividades de controle da malária na África subsaariana, principalmente financiadas pelo Fundo Global de Luta contra a AIDS, Tuberculose e Malária. As principais atividades que levaram a redução no número de mortes foram o surgimento do tratamento farmacológico combinado com artemisina e estratégias de controle do vetor. 
As estimativas maiores de morte vistas no estudo de Murray descartam as metas da OMS de reduzir a zero as mortes por malária em 2015. Estimou-se neste trabalho que se a mortalidade continuar diminuindo, em 2020 teremos menos de 100,000 mortes. Contudo, devido à crise econômica global, está acontecendo uma redução nos investimentos para controle da malária e isso é um perigo iminente para a saúde da população em países endêmicos. Desta forma, o desenvolvimento de novos tratamentos (farmacológicos, atividades de controle do vetor e vacinas) de baixos custos e altas eficácias permanecem como as principais metas dos pesquisadores para uma possível erradicação da malária.


Referencia:
Murray, C., Rosenfeld, L., Lim, S., Andrews, K., Foreman, K., Haring, D., Fullman, N., Naghavi, M., Lozano, R., & Lopez, A. (2012). Global malaria mortality between 1980 and 2010: a systematic analysis The Lancet, 379 (9814), 413-431 DOI: 10.1016/S0140-6736(12)60034-8


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