quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Advanced WHO-IRTC/Unil Course on Immunology, Vaccinology and Biotechnology Applied to Leishmaniasis


Post de Deboraci Prates e Sarah Falcão (UFBA e LIP-CPqGM/FIOCRUZ)

De Salvador para Lisboa, de Lisboa para Genebra, e desta por trem (totalizando um percurso de 13 horas) para a Capital Olímpica “Lausanne”, cidade Suíça com 131.000 habitantes, onde a língua oficial é o Francês.

Além das Olimpíadas (2000), Lausanne sediou o “Advanced WHO-IRTC/Unil Course on Immunology, Vaccinology and Biotechnology Applied to Leishmaniasis” (5-15 de outubro de 2011). Durante esses 10 dias, os participantes do Afeganistão, Bangladesh, Etiópia, Ghana, Índia, Irã, Mali, Mongólia, Nepal, África do Sul, Sri Lanka, Sudão, Tunísia e Alemanha tiveram a grande oportunidade de estar em contato com importantes pesquisadores da área. Nós, as únicas Americanas do time, também tivemos essa oportunidade. Todo o curso ocorreu na Universidade de Lausanne (Unil) e foi organizado por Dra. Fabienne Tacchini-Cottier.

Abaixo estão, na nossa opinião, os "highlights" do curso:

A palestra de abertura do curso foi ministrada por J.C. Dujardin, que abordou as novas ferramentas da epidemiologia molecular para o estudo da Leishmaniose, apresentando sua atual linha de trabalho que envolve estudos de resistência do parasita às drogas. A aplicabilidade desses estudos foi bem salientada na palestra de Dujardin assim como a regra da Epidemiologia Molecular: “Communicate and Integrate”. Abordando aspectos do Genoma da Leishmania, S. Berverley apresentou grandes perspectivas e recentes avanços com relação ao uso de genes-alvo e RNAi para novas terapias. P. Desjeux, esteve presente fazendo uma revisão sobre os aspectos epidemiológicos e clínicos das Leishmanioses, trazendo um novo dado sobre o número de países onde a doença está presente: atualmente 98 países estão implicados, embora esta informação ainda não esteja atualizado no site da WHO. Abordando a relevância dos modelos experimentais de Leishmaniose para o entendimento da doença, J. Alexander, após revisar o modelo clássico para L. major, evidenciou que em L. mexicana há uma provável participação de cisteína proteases potencializando uma resposta Th2, via inibição de IL-12 e indução de IL-4. Para L. donovani destacou um papel protetor da IL-13 na infecção, pois camundongos IL-13 KO apresentaram uma menor produção de IFN-gamma. Esse papel da IL-13 em promover uma resposta Th1 protetora foi confirmado quando animais KO para a IL-4 apresentaram menor susceptibilidade que animais IL-4Rα KO. Além disso, foi sugerido que a IL-13 está relacionada com as células dendríticas conforme dados preliminares.

F. Tacchini-Cottier trouxe-nos uma excelente revisão sobre o papel dos neutrófilos na Leishmaniose, abordando trabalhos de seu grupo e discutindo dados da literatura. Uma apresentação que instigou bastante os participantes do curso, pois estas células já deixaram de ser negligenciadas pelos imunologistas. No contexto da infecção os neutrófilos são recrutados, atuam como hospedeiros transitórios do parasita, exercem ou não seus mecanismos microbicidas, apresentam um papel imunorregulador através da produção de citocinas, quimiocinas e interação com células dendríticas e atuam na imunopatologia da doença via mecanismos pró-inflamatórios. Uma atenção especial durante sua apresentação foi sobre o real papel das NET’s. Hoje está bem claro que outras espécies de Leishmania (L. major e L. donovani) resistem às NET’s possivelmente pelo LPG1 e ao final ela destaca a importância de modelos in vivo para a elucidação do papel das NET’s: “in vivo veritas”. Ao trazer informações sobre os aspectos da Leishmaniose no Brasil e a participação da saliva do flebótomo, a palestra de A. Barral também despertou grande interesse dos participantes, pois a saliva continua sendo alvo de muitas perguntas. G. Spaeth, do Institute Pasteur, expondo sobre as estratégias para o desenvolvimento de novas drogas leishmanicidas, destacou as proteína cinases como um bom alvo. P. Kropf discursou sobre o papel da arginase do parasita e do hospedeiro na Leishmaniose. A arginase do parasita pode ser um marcador de virulência, pois a ausência desta ocasiona uma falha do crescimento do parasita in vitro e parasitas knockout para a arginase são menos infectivos. Ademais, a arginase do hospedeiro está associada com o aumento da replicação do parasita (nas formas clínicas LC e LV) e é induzida por mecanismos dependentes de TLR4. Por fim, a atividade da arginase é maior no plasma de pacientes com LV e é diminuída após o tratamento. N. Fasel, objetivando evidenciar o papel do polimorfismo genético do parasita na metastatização da LCM causada por L. guyanensis, usou o modelo de infecção em Hamster. Seus estudos evidenciam que isolados de pacientes com LCM induzem a produção de IL-17, uma forte resposta inflamatória e a diminuição de NO, via TLR3. Esse efeito está relacionado à presença do vírus dsRNA (LRV) no parasita. P. Kaye, ministrou uma verdadeira aula sobre as perspectivas para vacinação em Leishmaniose, abordando estratégias de vacinação terapêutica e profilática, modelos para testar vacinas e alvos para investigação, além da complexidade do assunto em diferentes âmbitos, incluindo o econômico. Também estiveram também presentes no curso H. Ghalib, J. Moreno, B. Arana, F. Moddaber, P. Salotra, M. Perkins, H. Louzir e F. Piazza.

O curso dedicou um dia para uma aula prática para detecção de resposta imune protetora contra L. major (modelo Balb/c e C57BL/6) usando como ferramenta a citometria de fluxo e PCR em tempo real (é claro que foi apenas uma demonstração teórica). Este curso foi muito importante, pela oportunidade de rever e aprender diferentes aspectos da Leishmaniose e da Leishmania, por proporcionar uma atualização dos novos conhecimentos a cerca da doença e as perspectivas no campo de estudo. Por fim, nos proporcionou conhecer pessoas de diferentes países e culturas, além do trabalho desenvolvido por cada um, pois tivemos um momento para apresentação oral de nossa pesquisa, em um clima descontraído, onde cada um pode mostrar um pouco do seu país. A descontração maior ficou por conta do jantar de encerramento onde, entre outros acontecimentos, Fabienne Tachinni-Cottier cantou uma canção italiana.

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