quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Plantas medicinais para o tratamento das doenças parasitárias

Post de Diego Moura Santos (LIP-CPqGM/FIOCRUZ)







A Leishmaniose, a doença do sono, a malária e a doença de Chagas são classificadas como doenças negligenciadas, que afetam principalmente as pessoas de regiões subdesenvolvidas. Segundo a OMS, 25% dos fármacos modernos foram sintetizados a partir de plantas medicinais [1], e mais de 80% da população em países subdesenvolvidos fazem uso da medicina tradicional para os tratamentos iniciais [2]. O desenvolvimento de tratamentos alternativos, com o uso de plantas medicinais, pode ser uma boa opção em lugares em que o acesso aos medicamentos é precário.




Burkina Faso é um país subdesenvolvido localizado no continente africano, onde a leishmaniose é uma doença endêmica. Devido à precariedade dos serviços de saúde, em que uma parcela da população só tem acesso a serviços primários, boa parte dos tratamentos das doenças é feita com plantas medicinais. Com o objetivo de avaliar se as plantas medicinais utilizadas pela população, para o tratamento de doenças parasitárias, realmente possui efeito antiparasitário, Sawadogo e colaboradores [3] fizeram ensaios simples, com culturas axênicas de Leishmania donovani e Trypanosoma brucei brucei. Estes parasitas foram plaqueados e tratados com extratos das diferentes espécies de plantas, e foi observado que todas as 5 plantas utilizadas mostraram atividade antitripanossoma, e apenas uma delas (Lantana ukambensis) mostrou atividade leishmanicida. Com objetivo semelhante ao do grupo acima, Dua e colaboradores [4] avaliaram a atividade antiparasitária de 17 plantas medicinais utilizadas numa região da Índia. Os autores obtiveram extratos das plantas e estes foram utilizados em diferentes concentrações para avaliar suas ações contra o Plasmodium falciparum, Trypanosoma brucei rhodesiense, Trypanosoma cruzi e Leishmania donovani. O IC50 de cada extrato foi avaliado, assim como o índice de seletividade da droga. Como controles positivos foram utilizados as seguintes drogas: Cloraquina (Plasmodium falciparum), Benzonidazol (Trypanosoma cruzi), Melarsoprol (Trypanosoma brucei rhodesiense) e Miltefosina (Leishmania donovani). Neste trabalho, foram produzidos 68 extratos das 17 plantas. O IC50 ≤ 6 µg/mL foi utilizado como ponto de corte, restando assim somente os extratos de seis plantas (ver tabela). Artemisia roxburghiana mostrou melhor atividade antimalária com IC50 0,42 µg/mL e índice de seletividade de 78. Em relação à atividade leishmanicida, os extratos das plantas Leucas cephalotes e Viola canescens mostraram IC50 de 3,61 e 0,4 µg/mL e índice de seletividade de 8 e 4 respectivamente. Apesar do baixo índice de seletividade da Leucas cephalotes e Viola canescens, os autores só encontraram uma maior toxicidade para células de linhagens (L-6 cells) no extrato da planta Viola canescens.




Diante do acima exposto, ambos os estudos fornecem dados que apóiam o uso da medicina natural e dão o primeiro passo em busca de novas drogas para o tratamento de doenças parasitárias.




Em relação ao segundo trabalho, os autores falharam em não tecer uma comparação entre os resultados obtidos por seus extratos medicinais e as drogas controles. Os resultados estão disponíveis numa tabela, à livre interpretação dos leitores.














1. WHO (2003) Traditional medicine fact sheet, vol 134. WHO, Geneva Zagana P, Klepetsanis P, Ioannou PV, Loiseau PM, Antimisiaris SG (2007) Tryp anocidal activi ty of arsonolipo so mes: effect of vesicle lipid composition. Biomed Pharmacother 61(8):499 – 504.







2. Farnsworth NR, Akelere O, Bingel A, Soejarto DD, Guo Z (1985) Medicinal plants in therapy. In: WHO (ed) WHO Bull 63:965 –981.







3. Sawadogo WR, Le Douaron G, Maciuk A, Bories C, Loiseau PM, et al. (2011) In vitro antileishmanial and antitrypanosomal activities of five medicinal plants from Burkina Faso. Parasitol Res.







4. Dua VK, Verma G, Agarwal DD, Kaiser M, Brun R (2011) Antiprotozoal activities of traditional medicinal plants from the Garhwal region of North West Himalaya, India. J Ethnopharmacol 136: 123-128.







terça-feira, 29 de novembro de 2011

Vega Science Trust: Videos científicos de qualidade


O Projeto Vega, hospedado na Florida State University, é uma fonte confiavel de vídeos científicos. Há várias categorias de filmes, algumas estão ilustradas abaixo:


Há uma série de palestras de Richard Feynman que vale a pena ver. A primeira, sobre fotons, pode ser vista aqui. Feynman, Premio Nobel de Física, é considerado um dos maiores palestrantes científicos:

"Feynman gives us not just a lesson in basic physics but also a deep insight into the scientific mind of a 20th century genius analyzing the approach of the 17th century genius Newton.
For the young scientist, brought up in this age of hi-tech PC/Power Point-based presentations, we also get an object lesson in how to give a lecture with nothing other than a piece of chalk and a blackboard. Furthermore we are shown how to respond with wit and panache to the technical mishaps that are part-and-parcel of the lecturer`s life."

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Seminário Interno de Revisão e Planejamento Científico 2011


PROGRAMAÇÃO:


02/12/2011 - 9h/12h - Reunião dos pesquisadores.


02/12/2011 - 14h/18h - Reunião com todos membros (alunos, orientadores, apoio técnico, gestoras) - Auditório CPqGM.


03/12/2011 - 13h - Almoço e amigo secreto*** de confraternização.



*** Valor: R$20,00, presente unisex.


OBS: Este evento é restrito para os membros do LIMI e do LIP.

domingo, 27 de novembro de 2011

Perspectivas e limitações da C&T no Brasil

Um título meio pomposo, e seguramente pretensioso, para uma análise de como estamos em termos da produção científica e da formação de doutores no Brasil.
Apresentei esta palestra originalmente na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) e com algumas modificações no instituto de Saúde Coletiva da UFBA.



Ou seja:
A produção científica brasileira internacionalmente indexada aumentou muito, mas países como China, Coréia do Sul e Índia cresceram mais que nós;
Precisamos aumentar a formação doutoral e atrair doutores para o Brasil, pois temos pouco pessoal capacitado;
Há uma preocupante redução percentual dos doutores em engenharias, ciências naturais, ciencias biológicas e da saúde;
Patenteamos pouco.



sábado, 26 de novembro de 2011

Fronteiras da Engenharia Biomédica nos Cursos livres da Yale

A Universidade de Yale oferece vários cursos introdutórios de forma livre na internet (aqui) e que estão também disponíveis no YouTube e no iTunes.
Veja abaixo a primeira aula do curso Frontiers od Biomedical Engineering.

O curso cobre os conceitos básicos da engenharia biomédica e sua conexão com as atividades humanas.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Criatividade sem Fronteiras - Palestra de Sir Harry Kroto, Nobel de Química


Professor (Sir) Harry Kroto, Prêmio Nobel de Química 1996, apresenta palestra na UFBA

Como parte das comemorações dos 60 anos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ano Internacional da Química (AIQ 2011), a Universidade Federal da Bahia estará recebendo o Prof. Sir Harry Kroto, da Universidade do Estado da Flórida (USA), que irá proferir uma palestra sobre “Criatividade Sem Fronteiras”, às 16 horas de 25/11/2011, no Salão Nobre da Reitoria da UFBA.
Harold Walter Kroto (Harry Kroto) é um químico britânico e foi agraciado com o Nobel de Química de 1996. A maior parte de sua carreira docente transcorreu na Universidade de Sussex na Inglaterra e atualmente leciona na Universidade do Estado da Flórida.
Nos anos 1970 ele lançou um programa de pesquisa para buscar cadeias de carbono no espaço cósmico. Seus estudos iniciais detectaram a molécula cianoacetileno, H-C≡C- C≡N. O grupo de Sir Kroto buscava evidências espectrais de moléculas ainda mais longas, tais como o cianobutadieno, H-C=C-C=C-C≡N e o cianohexatrieno, H-C=C-C=C- C=C-C≡N, e as encontrou entre 1975 e 1978.
Em 1985, um experimento não apenas provou que as estrelas podiam produzir as cadeias de carbono, mas também revelou um resultado surpreendente - a existência de moléculas do tipo C60 - com estrutura cíclica e 60 átomos de carbono - que foi denominada de fulereno. O Prêmio Nobel de Química de 1996 foi dividido entre o próprio Kroto, Robert F. Curl Jr. e Richard E. Smalley (falecido em 2005), ambos da Rice University, Texas (USA).
Atualmente Sir Kroto realiza pesquisas em Nanociência e Nanotecnologia e dedica parte de seu tempo e esforços para divulgação científica, por meio da Fundação Vega na Inglaterra (www.vega.org.uk).
O evento é uma promoção Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com o apoio da Fundação Conrado Wessel (FCW), Soc. Bras de Quimica, INCT de Energia e Ambiente e Pró-Reitoria de Extensão da UFBA.

Atenção: A conferência contará com serviço de tradução simultânea, do inglês para português. Para utilizar esse serviço, os participantes deverão retirar o fone de ouvido mediante a entrega de um documento por usuário.

Transmissão ao vivo pela internet: http://aovivo.ufba.br/cnpq60anos. (O acesso à transmissão ao vivo estará disponível no dia 25/11/2011, a partir das 16 horas). 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Imunorregulação na malaria vivax e polimorfismo de IL-10


Increased interleukin-10 and interferon-γ levels in Plasmodium vivax malaria suggest a reciprocal regulation which is not altered by IL-10 gene promoter polymorphism
Post de Lígia C. L. de Souza
Quando tratamos de doenças infecciosas, a resposta imune adquirida pode representar tanto a possibilidade de eliminar o agente etiológico como a de gerar uma resposta exacerbada responsável (em grande parte) pelos sintomas. Para a malária humana essa retórica é bastante pertinente. A resposta ao parasita é coordenada por mecanismos pró-inflamatórios e por mecanismos moduladores. Esse balanço entre as citocinas é responsável pelas diferentes expressões da doença. Esse jogo de citocinas não está totalmente desvendado em infecções por Plasmodium vivax, mas estudos apontam que altos níves de citocinas pró-inflamatórias (TNF, IFN-γ e IL-6) são encontrados em manifestações graves da doença, enquanto que baixos níveis de citocinas reguladoras (TGF-β e IL-10) são associadas a doença aguda (ver gráfico). 


Gráfico adaptado de: Andrade BB et al, 2010. NI: non-infected; Asy: asymptomatic malaria; Mild: mild malaria; Sev: severe malaria. 
Dentre os fatores que podem interferir na produção dessas citocinas, está o polimorfismo de genes codificadores. Neste cenário, o estudo de Medina et al, recentemente publicado no Malaria Journal, retrata a relação entre a frequência de polimorfismos, os níveis de citocinas IL-10/IFN-γ e parasitemia. A partir de amostras de sangue de 132 pacientes infectados com P.vivax e 86 controles (estado do Pará), foram realizadas dosagens de citocinas IL-12, IL-4, IFN-γ e IL-10 e PCR do polimorfismo SNP (Single Nucleotide Polymorphism) do gene do IFN-y  (IFN-y +874 A/T) e do gene da IL-10 (IL-10 -1082 G/A). O primeiro polimorfismo está associado com um aumento da produção IFN-y em tuberculosos e o segundo, vinculado a uma redução da expressão de IL-10 em pacientes com malária falciparum. 
Encontraram-se níveis aumentados de IL-10 e IFN-y em pacientes infectados em relação ao grupo controle, bem como um aumento das citocinas condizente com o aumento de parasitemia. A concentração de IFN-y foi maior em pacientes primoinfectados, o que sugere uma resposta mais intensa na primeira infecção. Ao analisar o polimorfismo do INF-y, foi constatado um efeito redutor na produção de IFN-y para os homozigotos selvagens, mas sem relação com a parasitemia. Já o polimorfismo de IL-10, não foi estatisticamente significante na redução dos níveis dessa citocina. Não houve associação entre o genótipo das referidas citocinas e a parasitemia. Por fim, o estudo sugere que a regulação negativa de IL-10 e o polimorfismo de IFN-y fornecem mecanismos de controle em P. vivax. 
O estudo foi pioneiro ao tentar relacionar o polimorfismo de IL10, uma importante citocina reguladora, apontada como importante protetora na malária. Ele demonstrou que o polimorfismo regulador de IFN-y e de IL-10 não está relacionado com o controle da parasitemia. Demonstra-se, portanto, uma necessidade de maiores estudos em malária P. vivax, investigando fatores moduladores da resposta imune, fatores de proteção e possíveis alvos terapêuticos no combate a essa doença.
Andrade BB, Reis-Filho A, Souza-Neto SM, Clarêncio J, Camargo LMA, Barral A, Barral-Netto M. Severe Plasmodium vivax malaria exhibits marked inflammatory imbalance. Malar J.2010;9:13. doi: 10.1186/1475-2875-9-13
Medina et al. Increased interleukin-10 and interferon-g levels in Plasmodium vivax malaria suggest a reciprocal regulation which is not altered by IL-10 gene promoter polymorphism. Malaria Journal 2011, 10:264  doi: 10.1186/1475-2875-10-264

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ben Goldacre: Battling bad science (TED)

Reproduzido da coluna Questões de Ciência , por Bernardo Esteves, Revista Piauí.

Para tristeza de alguns e alívio de outros, a coluna Bad Science [Ciência Ruim], publicada todo sábado no Guardian por Ben Goldacre, foi temporariamente interrompida na semana passada. Nos últimos oito anos, esse psiquiatra e divulgador de ciência usou seu espaço no jornal britânico para denunciar a medicina alternativa e outras práticas terapêuticas questionáveis, textos jornalísticos que traziam erros científicos e anúncios publicitários que recorriam à ciência para vender seus produtos.

Com estilo mordaz, o colunista teve no noticiário de ciência da imprensa britânica a matéria-prima para a maior parte de suas colunas. Goldacre atacou os textos empurrados pelas assessorias de imprensa de institutos de pesquisa e companhias privadas e publicados sem grande questionamento pelos jornalistas. Criticou a falta de preparo dos repórteres para cobrir ciência, em especial no trato com as estatísticas.

"Real scientists can behave as badly as anyone else. Science isn't about authority, or white coats, it's about following a method. That method is built on core principles: precision and transparency; being clear about your methods; being honest about your results; and drawing a clear line between the results, on the one hand, and your judgment calls about how those results support a hypothesis. Anyone blurring these lines is iffy." Para ler na íntegra.

Veja o TED talk de Ben Goldacre abaixo. Além de muito pertinente, o médico tem um senso de humor sensacional.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Coisas do coração: batimento

Do Guardian:
"In the first of four scientific tours of the heart, Prof Michael Shattock of King's College London tells the story of a single heartbeat. How does a tiny electrical signal from the pacemaker cells kick off the tightly coordinated series of muscular contractions needed to pump blood around the body?" (aqui)



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Advanced WHO-IRTC/Unil Course on Immunology, Vaccinology and Biotechnology Applied to Leishmaniasis


Post de Deboraci Prates e Sarah Falcão (UFBA e LIP-CPqGM/FIOCRUZ)

De Salvador para Lisboa, de Lisboa para Genebra, e desta por trem (totalizando um percurso de 13 horas) para a Capital Olímpica “Lausanne”, cidade Suíça com 131.000 habitantes, onde a língua oficial é o Francês.

Além das Olimpíadas (2000), Lausanne sediou o “Advanced WHO-IRTC/Unil Course on Immunology, Vaccinology and Biotechnology Applied to Leishmaniasis” (5-15 de outubro de 2011). Durante esses 10 dias, os participantes do Afeganistão, Bangladesh, Etiópia, Ghana, Índia, Irã, Mali, Mongólia, Nepal, África do Sul, Sri Lanka, Sudão, Tunísia e Alemanha tiveram a grande oportunidade de estar em contato com importantes pesquisadores da área. Nós, as únicas Americanas do time, também tivemos essa oportunidade. Todo o curso ocorreu na Universidade de Lausanne (Unil) e foi organizado por Dra. Fabienne Tacchini-Cottier.

Abaixo estão, na nossa opinião, os "highlights" do curso:

A palestra de abertura do curso foi ministrada por J.C. Dujardin, que abordou as novas ferramentas da epidemiologia molecular para o estudo da Leishmaniose, apresentando sua atual linha de trabalho que envolve estudos de resistência do parasita às drogas. A aplicabilidade desses estudos foi bem salientada na palestra de Dujardin assim como a regra da Epidemiologia Molecular: “Communicate and Integrate”. Abordando aspectos do Genoma da Leishmania, S. Berverley apresentou grandes perspectivas e recentes avanços com relação ao uso de genes-alvo e RNAi para novas terapias. P. Desjeux, esteve presente fazendo uma revisão sobre os aspectos epidemiológicos e clínicos das Leishmanioses, trazendo um novo dado sobre o número de países onde a doença está presente: atualmente 98 países estão implicados, embora esta informação ainda não esteja atualizado no site da WHO. Abordando a relevância dos modelos experimentais de Leishmaniose para o entendimento da doença, J. Alexander, após revisar o modelo clássico para L. major, evidenciou que em L. mexicana há uma provável participação de cisteína proteases potencializando uma resposta Th2, via inibição de IL-12 e indução de IL-4. Para L. donovani destacou um papel protetor da IL-13 na infecção, pois camundongos IL-13 KO apresentaram uma menor produção de IFN-gamma. Esse papel da IL-13 em promover uma resposta Th1 protetora foi confirmado quando animais KO para a IL-4 apresentaram menor susceptibilidade que animais IL-4Rα KO. Além disso, foi sugerido que a IL-13 está relacionada com as células dendríticas conforme dados preliminares.

F. Tacchini-Cottier trouxe-nos uma excelente revisão sobre o papel dos neutrófilos na Leishmaniose, abordando trabalhos de seu grupo e discutindo dados da literatura. Uma apresentação que instigou bastante os participantes do curso, pois estas células já deixaram de ser negligenciadas pelos imunologistas. No contexto da infecção os neutrófilos são recrutados, atuam como hospedeiros transitórios do parasita, exercem ou não seus mecanismos microbicidas, apresentam um papel imunorregulador através da produção de citocinas, quimiocinas e interação com células dendríticas e atuam na imunopatologia da doença via mecanismos pró-inflamatórios. Uma atenção especial durante sua apresentação foi sobre o real papel das NET’s. Hoje está bem claro que outras espécies de Leishmania (L. major e L. donovani) resistem às NET’s possivelmente pelo LPG1 e ao final ela destaca a importância de modelos in vivo para a elucidação do papel das NET’s: “in vivo veritas”. Ao trazer informações sobre os aspectos da Leishmaniose no Brasil e a participação da saliva do flebótomo, a palestra de A. Barral também despertou grande interesse dos participantes, pois a saliva continua sendo alvo de muitas perguntas. G. Spaeth, do Institute Pasteur, expondo sobre as estratégias para o desenvolvimento de novas drogas leishmanicidas, destacou as proteína cinases como um bom alvo. P. Kropf discursou sobre o papel da arginase do parasita e do hospedeiro na Leishmaniose. A arginase do parasita pode ser um marcador de virulência, pois a ausência desta ocasiona uma falha do crescimento do parasita in vitro e parasitas knockout para a arginase são menos infectivos. Ademais, a arginase do hospedeiro está associada com o aumento da replicação do parasita (nas formas clínicas LC e LV) e é induzida por mecanismos dependentes de TLR4. Por fim, a atividade da arginase é maior no plasma de pacientes com LV e é diminuída após o tratamento. N. Fasel, objetivando evidenciar o papel do polimorfismo genético do parasita na metastatização da LCM causada por L. guyanensis, usou o modelo de infecção em Hamster. Seus estudos evidenciam que isolados de pacientes com LCM induzem a produção de IL-17, uma forte resposta inflamatória e a diminuição de NO, via TLR3. Esse efeito está relacionado à presença do vírus dsRNA (LRV) no parasita. P. Kaye, ministrou uma verdadeira aula sobre as perspectivas para vacinação em Leishmaniose, abordando estratégias de vacinação terapêutica e profilática, modelos para testar vacinas e alvos para investigação, além da complexidade do assunto em diferentes âmbitos, incluindo o econômico. Também estiveram também presentes no curso H. Ghalib, J. Moreno, B. Arana, F. Moddaber, P. Salotra, M. Perkins, H. Louzir e F. Piazza.

O curso dedicou um dia para uma aula prática para detecção de resposta imune protetora contra L. major (modelo Balb/c e C57BL/6) usando como ferramenta a citometria de fluxo e PCR em tempo real (é claro que foi apenas uma demonstração teórica). Este curso foi muito importante, pela oportunidade de rever e aprender diferentes aspectos da Leishmaniose e da Leishmania, por proporcionar uma atualização dos novos conhecimentos a cerca da doença e as perspectivas no campo de estudo. Por fim, nos proporcionou conhecer pessoas de diferentes países e culturas, além do trabalho desenvolvido por cada um, pois tivemos um momento para apresentação oral de nossa pesquisa, em um clima descontraído, onde cada um pode mostrar um pouco do seu país. A descontração maior ficou por conta do jantar de encerramento onde, entre outros acontecimentos, Fabienne Tachinni-Cottier cantou uma canção italiana.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Debate "Redes Internacionais de Pesquisadores e Redes Sociais na Internet"


Redes Políticas, Econômicas, de Pesquisa, Redes Sociais, as Redes. ..


Transmissão online: www.livestream.com/nextfiocruz


Palestrantes: Professores Carlos Medicis Morel e Nilton Bahlis dos Santos - 
Moderadora: Professora Cláudia Travassos.
Data: Quinta-feira, 17 de novembro de 2011.
Horário: 14 hs às 17 hs
Local: ICICT - Fundação Oswaldo Cruz Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos Rio de Janeiro, Brazil


Você não consegue mais participar de uma reunião política, de negócios ou de pesquisa sem ouvir falar de Redes. Na Fiocruz, com mais de 10.000 funcionários que pesquisam e prestam serviço na área de saúde, elas aparecem com diferentes formas por toda a parte, e ganham importância para responder práticas que se tornam cada vez mais complexas. Porisso, pelo menos dois Grupos de Pesquisa da Fiocruz fazem das Redes uma atividade Central. Um que trabalha com Redes Internacionais de Pesquisadores. Outro que procura incorporar o uso das metodologias e instrumentos trazidos pelas Redes Sociais na Internet, a estas Redes de Pesquisa:

Resumo: Dois Grupos de Pesquisa da Fiocruz fazem das Redes, na Fiocruz, uma atividade Central. O primeiro, e mais antigo, o Grupo de Pesquisa liderado pelo Professor Carlos Medicis Morel, trabalha com a formação de redes colaborativas intra-organizacionais que associam as unidades técnico-científicas com as unidades de produção da Fiocruz, ou o setor industrial nacional ou internacional, visando obter produtos e processos e sua disponibilização para a sociedade. Fortalecimento e expansão de redes de inovação em saúde e das Parcerias para o Desenvolvimento de Produtos (PDPs) para uso na prevenção e controle de doenças, em particular doenças negligenciadas.  O segundo, o Grupo de Pesquisa "Tecnologias, Culturas, Práticas Interativas e Inovação em Saúde” liderado pelo Professor Nilton Bahlis dos Santos, trabalha com Redes em Sistemas Complexos, em particular nas chamadas Redes Sociais na Internet. Estuda o potencial das redes sociais em práticas de pesquisa, educação e saúde e por isso trabalha com metodologias relacionadas a práticas de enxame, estigmérgia humana, com conceitos como “multribuição” e, principalmente, com produção coletiva de conhecimento e práticas colaborativas em pesquisa.Duas experiências diversas que se complementam. Ambas trabalhando, não por acaso, com Inovação, e em particular, na constituição de Ambientes de Inovação.
Para debater sobre estas duas pesquisas sobre Redes, com suas metodologias, com o objetivo de construir novas possibilidades, o Icict, abordagens e experiências diversas, dando continuidade a comemoração de seus 25 anos, o Icict-Fiocruz está organizando o Debate"Redes Internacionais de Pesquisadores e Redes Sociais na Internet" .
Curriculo dos Participantes:

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Lançamentos de livro e site resgatam história da divulgação científica brasileira


 Suplemento dominical de ciência publicado no Jornal do Commercio entre 1958 e 1962 é tema de livro. O site Brasiliana faz um percurso histórico na divulgação científica brasileira e traz base de dissertações e teses defendidas na área.
 
O lançamento do livro Um gesto ameno para acordar o país – A ciência no Jornal do Commercio (1958-1962) é o ponto de partida para um evento que visa resgatar a história da divulgação científica no Brasil. A publicação traz a história da (pouco conhecida) seção dominical de ciência do jornal carioca criada em 1958. De sua equipe, participou o então jovem estudante Leopoldo de Meis, hoje renomado cientista da UFRJ. Organizada pelo próprio Leopoldo juntamente com as jornalistas Luisa Massarani e Claudia Jurberg, a publicação traz um DVD com todos os exemplares da seção localizados. 
 
O evento contará com uma mesa-redonda integrada por Ildeu de Castro Moreira (Instituto de Física da UFRJ), Bernardo Esteves (jornalista da Revista Piauí) e o próprio de Leopoldo de Meis, coordenada por Luisa Massarani (Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz).
 
No mesmo evento, será lançado o site “Brasiliana”, que busca reconstruir a história da divulgação científica no Brasil e reunir as diversas iniciativas empreendidas nesse campo desde o século 19 até os dias de hoje. O site traz, ainda, uma base de dissertações e teses defendidas no país na área de divulgação científica. O projeto é uma parceria entre Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, UFRJ e UFMG, apoiado pelo CNPq. A página poderá ser acessada pelo linkhttp://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana.
 
 O evento ocorre no dia 22 de novembro, terça-feira, às 17h, na Casa da Ciência/UFRJ, Rua Lauro Müller, 3 – Botafogo – Rio de Janeiro.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Dia da ciência para a paz e o desenvolvimento


O dia da ciência para a paz e o desenvolvimento (World Science Day for Peace and Development) é hoje. Surpreso? Eu também fiquei. Há muito, todas as preocupações sociais pareciam completamente abandonadas em favor das leis do mercado. A ciência deve se envolver exclusivamente com as empresas, geração de riquezas e coisas afins, é o mantra repetido por muitos.
Felizmente esta dicotomia ingênua parece a caminho de ser superada. A ciência e tecnologia devem se preocupar em gerar riqueza e dar retorno ao grande investimento social feito para obtenção do conhecimento. Contudo, o objetivo não pode ser gerar riqueza para poucos. A ciência, como as outras atividades humanas, deve ter como objetivo maior o desenvolvimento social de forma equilibrada.
Ressalto, porém, que o dia fala também em ciência para a paz. Isto seria uma mudança substantiva. De longa data, a ciência tem contribuído muito mais para a guerra.  As forças militares de vários países investem em vários aspectos científicos e muitos dos terríveis equipamentos bélicos dependem bastante de tecnologia avançada para a sua fabricação. Além destes aspectos, há investimentos importantes em vários temas de biodefesa. Nunca esqueça que o preparo para a biodefesa é uma outra face do bioataque.
Como a ciência poderá contribuir para a paz? Já seria muito não contribuir para a guerra, porém neste aspecto não sou otimista. Os esforços para promover um desenvolvimento social harmônico, para reduzir as desigualdades, a fome e as doenças, levam a um mundo melhor. Será isto a paz?

Diagnóstico de tuberculose por estratégias "treat-to-test": vale a pena investir em biomarcadores confirmatórios pós-tratamento?

ResearchBlogging.org Post de Theolis Bessa


Um dos grandes entraves ao controle da tuberculose (TB) continua sendo a baixa taxa de detecção de casos novos da doença. Enquanto novas estratégias baseadas em testes moleculares ou cultura líquida têm mostrado bom desempenho, o alto custo de implementação dessas tecnologias na rotina, principalmente em locais com baixa renda (onde a doença atinge as maiores incidências), torna a sua aplicação um desafio para as políticas de saúde.

Com base nos estudos que demonstram uma baixa sensibilidade e especificidade para testes sorológicos da doença, mas um potencial para o reconhecimento de antígenos intracelulares nas primeiras semanas pós-tratamento com a morte maciça de bacilos promovida pelas drogas anti-tuberculosas, o grupo de Richard Anthony do Royal Tropical Institute, Amsterdam propõe investir em estratégias de confirmação diagnóstica após o início do tratamento para TB, em artigo de opinião recentemente publicado na PloS Pathogens.

Representação esquemática da liberação esperada d eantígenos de TB e consequente resposta de produção de anticorpos do hospedeiroapós o iníicio do tratamento. Fonte: den Hertog et al. PLoS Pathog 2011 [1].

 
Os autores destacam que o diagnóstico presumido da doença com base em critérios clínicos tem sido utilizado em locais com baixos recursos como estratégia de controle, e um teste laoratorial que permitisse identificar rapidamente se o tratamento estaria sendo bem aplicado e eficaz poderia auxiliar em distinguir rapidamente casos sem tuberculose de casos com tuberculose não resistente ou resistente a algum dos fármacos utilizados no esquema padrão. Isso poderia evitar o tratamento inicial com drogas de amplo espectro, a exemplo das fluoroquinolonas, diminuindo também a chance de desenvolvimento de resistência a drogas utilizadas em esquemas de segunda escolha para casos de pacientes com resistência a uma ou mais drogas anti-tuberculosas.


Referência:

[1] den Hertog, A., Mayboroda, O., Klatser, P., & Anthony, R. (2011). Simple Rapid Near-Patient Diagnostics for Tuberculosis Remain Elusive—Is a “Treat-to-Test” Strategy More Realistic? PLoS Pathogens, 7 (11) DOI: 10.1371/journal.ppat.1002207
O artigo do Dep. Sibá Machado (publicado aqui) esclarece vários aspectos tratados atualmente no legislativo e podem ter reflexos importantes na atividade de ciência e tecnologia no Brasil. Veja abaixo:


"Quero abordar dois assuntos de extrema relevância em discussão no Congresso Nacional. São temas que refletem diretamente o futuro que queremos para o Brasil e o povo brasileiro. Trata-se de duas propostas concernentes às áreas de ciência, tecnologia, pesquisa e inovação. Uma delas é o PL 2177/2011, que cria um Novo Código para a Ciência Brasileira; a outra, a aprovação do PL 448/11 pelo Senado Federal, em outubro último.
A idéia de mudança na legislação brasileira surgiu em Audiência Pública realizada pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, em final de abril deste ano. A partir dos relatos do Ministro de Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, referentes aos entraves para desenvolvimento da pesquisa e inovação, ficou claro que o Brasil só recuperaria o tempo perdido e disputaria seu lugar entre os países desenvolvidos a partir de investimentos estruturais na área. Foi pensado, então, alternativas para a solução dos problemas elencados pelo Ministro. A partir de um encontro com os Secretários de Estado de Ciência e Tecnologia de todo o país, realizado no final de maio em Belo Horizonte, convoquei uma reunião com representantes de várias instituições de pesquisa brasileira. Estava instituído o Grupo de Trabalho, criado com a missão de elaborar uma proposta legislativa que tentasse refletir os principais problemas da pesquisa no Brasil, apontando soluções e capaz de oferecer maior segurança e condições de trabalho para os operadores da ciência.
 Formado o GT, as discussões se deram sobre os grandes problemas enfrentados pelo setor, tais como: a Lei de Licitações, subvenções, financiamentos, compras no exterior, entre outros. Durante três meses o debate recebeu contribuições de mais de 1.200 entidades públicas e privadas de todo o País. A amplitude dessa participação foi diretamente proporcional à importância do tema e o grau de preocupação existente entre os cientistas brasileiros. O extraordinário interesse suscitado levou à elaboração do referido PL, que nasce com  um valor diferenciado porque construído pelas instituições diretamente envolvidas, e que enfrentam, no seu dia a dia, os entraves legais para levar adiante seus projetos, entre estas o Conselho Nacional de Secretários Estaduais para assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (CONSECTI), Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Pela proposição, defendemos um novo olhar da lei sobre temas como por exemplo, as licitações, pois acreditamos não ser  mais possível, se quisermos acompanhar os países desenvolvidos, que o cientista, para adquirir equipamentos e produtos indispensáveis para sua pesquisa, tenha que comprar pelo menor preço, ou percorrer todas as etapas exigidas na Lei das Licitações. A espera compromete o sucesso de sua pesquisa e o produto de menor preço, provavelmente comprometerá a qualidade e precisão dos resultados. Pela nova Lei, as aquisições e contratações observarão o primado da qualidade sobre o preço.
 Quanto aos prazos, propomos que os instrumentos jurídicos decorrentes das atividades correlatas devem ter os seus prazos vinculados à duração do projeto, sem limitação de aditivos, desde que justificados, podendo ser acrescidos valores suficientes para fazer frente às despesas. Queremos, enfim, que a legislação brasileira estabeleça um regime diferenciado quando o assunto é ciência, tecnologia e inovação. Que todo aporte de capital nestas ações sejam considerados INVESTIMENTO. Mas é importante esclarecer que ninguém se opõe à fiscalização rigorosa, à transparência na aplicação dos recursos, ao acompanhamento dos órgãos responsáveis pela garantia do correto uso do dinheiro público. Todos esses cuidados foram adotados na nova proposta legislativa. Tanto é assim, que a proposição estabelece que na hipótese de mau uso dos recursos, a instituição deverá ressarcir financeiramente o bem adquirido.
Sobre as pesquisas por empresas privadas, à exemplo do que já se pratica nos países desenvolvidos, abre-se a possibilidade de incentivo e fomento público à empresas atuantes em pesquisas de CT&I, para constituição de parcerias e criação de incubadoras de novas empresas, criando instrumentos de estímulo à inovação como as subvenções econômicas, financiamentos, participação societárias e o voucher tecnológico, que é um crédito não reembolsável concedido pelas agências ou órgãos de fomento.
 Para as importações de equipamentos, o PL defende que as instituições de pesquisa possam adotar os procedimentos do Programa “Importa Fácil”, tendo tratamento aduaneiro simplificado, com maior agilidade, equipe especializada da Receita Federal com treinamento para despacho de cargas relativas a produtos destinados à pesquisa, determinação de aeroportos específicos para internalização dessas compras realizadas no exterior.
Em relação à prestação de contas, o projeto estabelece que a União, Estados, DF e os Municípios deverão adotar sistemas de prestação de contas flexíveis com obediência aos seguintes princípios: a) foco na análise do resultado do projeto e não na contabilidade; b) limite para remanejamento com justificativa posterior, e além deste limite, mediante prévia manifestação; c) prestação de contas mediante relatório eletrônico, com obrigação de guarda dos documentos comprobatórios do bom uso dos recursos, a exemplo do que é hoje a Declaração do Imposto de Renda.
Outro ponto importante que não ficou esquecido pela proposição diz respeito àdedicação exclusiva. Pela proposta, os professores de dedicação exclusiva poderão realizar atividades de pesquisa e extensão em horário concomitante, sem prejuízo das vantagens do cargo público, fazendo jus ao recebimento de bolsa de incentivo à inovação, se for o caso. Além disso, permite que os pesquisadores estrangeiros, detentores de visto provisório de permanência no Brasil, possam atuar em projetos de ciência tecnologia e inovação, recebendo bolsas de qualquer natureza.] Em rápidas pinceladas, essas são algumas mudanças a que se propõe o PL 2177, cujo estágio de tramitação atual é a formação de uma Comissão Especial para estudo do tema.
Referente ao PL 448/11, aprovado pelo Senado Federal em outubro, destaco a forma de distribuição dos royalties do petróleo para a área. Não houve por parte dos parlamentares daquela Casa, sensibilidade suficiente para entender que este pleito visa proteger as futuras gerações da nação brasileira, que clama por mais acesso ao conhecimento – algo que só poderá ser alcançado com educação de qualidade embasada na apropriação da capacidade de gerar avanços científicos e tecnológicos. Diante disto, meu temor é de que possamos repetir o mesmo cenário venezuelano de décadas passadas, ou seja, não conseguirmos aliar as divisas do petróleo com o desenvolvimento que queremos. Sobre isto, invoco o inesquecível economista Celso Furtado, que, em viagens de estudos àquele país, produziu o “Ensaios sobre a Venezuela: subdesenvolvimento com abundância de divisas”. 
E o Projeto, que foi aprovado sem levar em conta as reivindicações da SBPC e da ABC, que defendem 30% dos repasses dos recursos para a Educação e 7% para a pesquisa, tem mais um agravante. Se não modificado na Câmara, teremos o fim da destinação de parte dos royalties do petróleo para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). A ironia desta omissão é que o pré-sal só pode ser descoberto porque o Brasil (Petrobras, institutos de pesquisa e universidades) investiu em ciência, tecnologia e inovação. A omissão de hoje, certamente, impedirá que novas descobertas possam alavancar o Brasil do futuro.
Os recursos do pré-sal devem chegar a todos os brasileiros e a melhor forma é pela educação, um bem duradouro. A melhor maneira de assegurarmos essa herança para as gerações futuras é colocando o Brasil entre as nações mais desenvolvidas, posição que será alcançada pelos investimentos que formos capazes de fazer em ciência, tecnologia, pesquisa e inovação. Este cenário será alcançado apenas com investimentos contínuos garantidos por projetos de Estado e não de governo. A pulverização de recursos certamente não levará aos avanços sociais e econômicos desejados por todos."
 Sibá Machado
Deputado Federal (PT/AC)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Leishmania Promotes its own virulence by inducing expression of the host immune inhibitory ligand CD200

Post de Marcia Weber Carneiro

ResearchBlogging.orgA L. amazonensis causa a forma grave da leishmaniose, enquanto L. major causa a forma mais branda. Porém, os mecanismos que determinam uma alta taxa de infecção ou não da Leishmania ainda não estão bem compreendidos. Já foi demonstrado que respostas imunológicas podem ser controladas por receptores inibitórios, como o CD200, presente em células mielóides.

Assim, neste trabalho publicado no Cell Host & Microbe, Cortez e colaboradores buscam identificar os mecanismos de virulência do parasita. Para isso, eles infectam camundongos C57BL/6 WT e deficientes para CD200 (CD200-/-) com ambas as espécies de Leishmania. Eles também avaliaram os níveis de expressão gênica de macrófagos infectados ou não, utilizando o Affymetrix Gene Chip.


Os autores demonstraram que a L. amazonensis induz a expressão de CD200 no macrófago do hospedeiro e que, assim, eles se replicam com maior eficiência. A expressão de CD200 inibe a produção de ROS nos macrófagos infectados o que contribui para sobrevivência do parasita. Além disso, em animais deficientes em CD200, a carga parasitária foi menor do que em animais WT. Para verificar o efeito in vivo do CD200, o mesmo foi administrado, na forma solúvel, em animais infectados com L. major. Estes animais desenvolveram lesões mais severas e que não curaram, além de possuir maior replicação parasitária, similar à infecção com L. amazonensis.

Portanto, os autores concluem que a L. amazonensis possui a capacidade de induzir a expressão de CD200 em macrófagos, resultando em uma incapacidade de resposta microbicidas nas células hospedeiras e no aumento da sobrevivência e virulência intracelular do parasita. Porém, os mecanismos de ação de CD200 ainda não foram elucidados.


Cortez M, Huynh C, Fernandes MC, Kennedy KA, Aderem A, & Andrews NW (2011). Leishmania promotes its own virulence by inducing expression of the host immune inhibitory ligand CD200. Cell host & microbe, 9 (6), 463-71 PMID: 21669395

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Therapeutic siRNA silencing in inflammatory monocytes in mice

Post de Diego Moura Santos (LIP/CPqGM-FIOCRUZ)

ResearchBlogging.orgJá é de conhecimento que uma resposta inflamatória exacerbada pode ser a causa de vários tipos de patologias, como o câncer e a aterosclerose. As células que possuem papel de destaque nestas doenças são os monócitos e seus descendentes, os macrófagos. O recrutamento destas células para o local da inflamação depende da produção de quimiocina/receptor de quimiocina (MCP-1/CCR2). Trabalhos na literatura já demonstraram que a deleção do gene que expressa o MCP-1 e/ou do seu receptor CCR2 resultou na redução da inflamação em vários modelos de doenças, como a aterosclerose (2), infarto agudo do miocárdio (3), rejeição de órgãos transplantados (4) e câncer (5). O CCR2, como um alvo terapêutico, pode limitar as funções deletérias do sistema imune inato, sem interferir nas outras respostas de defesa. Até o momento, os tratamentos em desenvolvimento, como o uso de anticorpos neutralizantes, mostraram baixa especificidade ou baixa eficácia in vivo. Uma possível terapia para estas doenças inflamatórias poderia ser a utilização de duas técnicas promissoras, o siRNA e as nanopartículas (NPs) como carreadoras desta molécula.

Nesse contexto, a hipótese do trabalho em discussão é que a utilização de siRNA com alvo terapêutico no CCR2, encapsulada em NPs, poderia silenciar este gene nos monócitos/macrófagos, inibindo assim a migração destas células. Primeiramente, os autores fizeram uma caracterização das NPs lipídicas, que possuíam um tamanho variando entre 70-80 nm. A taxa de encapsulação foi de 95%. Em relação à distribuição dos siRNAs+NPs, esta foi analisada através de imagens de tomografias, que mostraram um maior acúmulo no baço, e um acúmulo considerável na medula óssea e fígado. Utilizando monócitos residentes do baço, foi demonstrado um “knockdown” no gene da CCR2 nestas células, e uma baixa taxa de migração celular, utilizando o MCP-1 como quimiotractante. Após estes ensaios iniciais, os autores avaliaram se o silenciamento do CCR2 reduziria o infarto agudo do miocárdio, a aterosclerose, diabetes e câncer. Primeiramente, eles observaram uma diminuição de 71% no número de monócitos inflamatórios e uma redução significativa na área acometida pelo infarto. Em relação à aterosclerose, foi observada uma diminuição de 82% no número de monócitos/macrófagos que migraram para a placa de aterosclerose e uma redução de 38% no tamanho da lesão.

Um dos tratamentos para diabetes tipo 1, ainda em fase experimental, é o transplante de ilhotas pancreáticas. Entretanto, a rejeição é um dos maiores obstáculos no uso clínico desta terapia. Após o transplante, os monócitos são recrutados e responsáveis pela indução da rejeição. O tratamento com siRNA+NPs diminuiu a porcentagem de ilhotas rejeitadas, e conseqüentemente, prolongou o período de normoglicemia. Por fim, os autores foram avaliar a efetividade do tratamento contra dois tipos de câncer, linfoma e colo-retal. Em relação ao linfoma, o tratamento diminuiu de forma significativa a área tumoral (tratado – 279 mm3, controle 590 mm3) e o recrutamento de macrófagos em 54%. No colo-retal, foi observado uma redução em 75% no recrutamento de macrófagos.

Neste trabalho, o grupo avaliou o uso de siRNA+NPs no tratamento de quatro importantes patologias, e abre portas para o estudo de várias outras, onde o recrutamento exacerbado de monócitos/macrófagos pode influenciar no desfecho da doença. A utilização de NPs feita de lipídeos, neste trabalho, não foi selecionada sem um critério prévio. Pensando num possível teste clínico, os autores selecionaram uma partícula biodegradável, compatível com o uso em humanos.

Recomendo a leitura do trabalho, não só pelo impacto terapêutico, mas pela boa escrita, que deixa o trabalho mais leve para leitura.

1. Leuschner F, Dutta P, Gorbatov R, Novobrantseva TI, Donahoe JS, Courties G, Lee KM, Kim JI, Markmann JF, Marinelli B, Panizzi P, Lee WW, Iwamoto Y, Milstein S, Epstein-Barash H, Cantley W, Wong J, Cortez-Retamozo V, Newton A, Love K, Libby P, Pittet MJ, Swirski FK, Koteliansky V, Langer R, Weissleder R, Anderson DG, & Nahrendorf M (2011). Therapeutic siRNA silencing in inflammatory monocytes in mice. Nature biotechnology PMID: 21983520


2. Gu L, Okada Y, Clinton SK, Gerard C, Sukhova GK, Libby P, Rollins BJ. 1998. Absence of monocyte chemoattractant protein-1 reduces atherosclerosis in low density lipoprotein receptor-deficient mice. Mol Cell 2: 275-81


3. Dewald O, Zymek P, Winkelmann K, Koerting A, Ren G, Abou-Khamis T, Michael LH, Rollins BJ, Entman ML, Frangogiannis NG. 2005. CCL2/Monocyte Chemoattractant Protein-1 regulates inflammatory responses critical to healing myocardial infarcts. Circ Res 96: 881-9


4. Abdi R, Means TK, Ito T, Smith RN, Najafian N, Jurewicz M, Tchipachvili V, Charo I, Auchincloss H, Jr., Sayegh MH, Luster AD. 2004. Differential role of CCR2 in islet and heart allograft rejection: tissue specificity of chemokine/chemokine receptor function in vivo. J Immunol 172: 767-75

5. Lu X, Kang Y. 2009. Chemokine (C-C motif) ligand 2 engages CCR2+ stromal cells of monocytic origin to promote breast cancer metastasis to lung and bone. J Biol Chem 284: 29087-96