terça-feira, 12 de julho de 2011

O cuspe da morte

Post de Deboraci Prates (LIMI-CPqGM/FIOCRUZ)




Saliva de flebotomíneos, neutrófilos e eventos inicias na infecção por Leishmania. (Ilustração de Théo Araújo)

ResearchBlogging.orgOs neutrófilos constituem a primeira linha de defesa contra infecções. Trabalhos recentes evidenciam cada vez mais a participação dessas células na imunopatogênese das leishmanioses e apontam o recrutamento inicial dessas células no local da picada do vetor (“lago sanguíneo”). A saliva de flebotomíneos constitui uma rica fonte de substâncias farmacologicamente ativas que interferem na resposta imune do hospedeiro. Apesar do reconhecimento da importância de ambos, saliva do vetor e neutrófilos, nos eventos iniciais da infecção pela Leishmania, o papel direto da saliva na interface neutrófilo-parasita ainda não havia sido estudado. Nesse trabalho nós testamos a hipótese de que componentes da saliva de Lutzomyia longipalpis (Lulo), vetor da Leishmania chagasi, induzem a apoptose de neutrófilos e modificam sua resposta inflamatória, favorecendo a infecção. A incubação de neutrófilos peritoneais de camundongos C57BL/6 com a saliva de Lulo deflagrou a apoptose dessas células. Essa morte celular foi dependente da ativação de caspases e mediada por FasL, uma vez que a mesma foi inibida pelo pré-tratamento dos neutrófilos com zVAD (um inibidor pan caspases) e com anticorpo neutralizante anti-FasL. Objetivando avaliar a natureza do componente pró-apoptótico presente na saliva de Lulo e se o(s) mesmo (s) poderia(m) ser alvo(s) de anticorpos específicos, pré-tratamos a saliva com proteinase K e soro imune anti-saliva de Lulo, respectivamente. A apoptose foi revertida em ambos os tratamentos. Nosso próximo objetivo foi o de avaliar a apoptose dos neutrófilos em presença do parasita. Surpreendentemente, aL. chagasi, foi capaz de induzir a morte dos neutrófilos por apoptose, tendo esse efeito acentuado pela saliva. Além disso, em presençada saliva, os neutrófilos apresentaram maior carga parasitária, produziram PGE2 e tiveram uma redução na produção de espécies reativas de oxigênio. A infecção dos neutrófilos foi associada a apoptose, uma vez que a mesma foi revertida em presença de zVAD. Já a participação da PGE2 na infecção foi corroborada em ensaios utilizando o inibidor da COX-2, NS-398, nos quais houve aumento da viabilidade dos parasitas. Por fim, avaliamos o potencial infamatório dos neutrófilos infectados em presença da saliva. Esses neutrófilos foram capazes de produzir CCL2/MCP-1 e recrutar macrófagos em ensaios de quimiotaxia in vitro. Tais efeitos foram abolidos pelo pré-tratamento dos neutrófilos com bindarit, um inibidor da expressão de CCL2/MCP-1. Em conjunto, nossos dados são inovadores e promissores. Inovadores por sugerirem um cenário até então não visto no “lago sanguíneo” formado pela picada do vetor e promissores por contribuir para o conhecimento de possíveis eventos iniciais na interface vetor-parasita-hospedeiro nas leishmanioses.




Prates DB, Araújo-Santos T, Luz NF, Andrade BB, França-Costa J, Afonso L, Clarêncio J, Miranda JC, Bozza PT, Dosreis GA, Brodskyn C, Barral-Netto M, Borges VD, & Barral A (2011). Lutzomyia longipalpis saliva drives apoptosis and enhances parasite burden in neutrophils. Journal of leukocyte biology PMID: 21685247

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