segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ensaio randomizado da vacinação BCG em recém-nascidos com baixo peso: efeitos inespecíficos benéficos no período neonatal?

ResearchBlogging.org

Post de Evelin Oliveira

Nos países em desenvolvimento existe alto índice de mortalidade em crianças recém-nascidas com baixo peso e alguns estudos mostram um efeito benéfico não específico da vacinação com BCG na sobrevivência dos neonatos. A vacina BCG tem o uso recomendado após o nascimento exceto nas crianças com baixo peso que têm a vacinação adiada. Roth e colaboradores (1) mostraram que a vacinação após o nascimento nas crianças com baixo peso diminuiu os níveis de mortalidade em 57%. Pensando nisso, Benn e colaboradores (2) testaram os efeitos da vacinação e revacinação com BCG na sobrevivência das crianças de Guinea-Bissau que apresentaram baixo peso ao nascer e partiram da hipótese de redução da mortalidade em 25%.

Os recém-nascidos selecionados para o estudo apresentaram peso inferior a 2,5kg, sendo que 1182 receberam a BCG logo após o nascimento e 1161 posteriormente. Um dado importante desse estudo foi que a administração da BCG nas crianças com baixo peso foi segura e nenhuma criança desenvolveu doença causada pela bactéria vacinal atenuada. Os pesquisadores mostraram redução de 17% da mortalidade infantil nas crianças com baixo peso vacinadas com BCG quando comparadas com controles não vacinados, o que não foi significativo e não atingiu os valores inicialmente hipotetizados. A redução da mortalidade neonatal foi relacionada ao menor índice de sepse neonatal e infecções respiratórias. A BCG teve um efeito benéfico significativo na mortalidade infantil apenas entre crianças com peso inferior a 1,5kg.





Estudos semelhantes mostraram mais efeitos benéficos nas meninas do que nos meninos (3,4). A vacinação com BCG pode apresentar aumento inespecífico da proteção contra infecções nos neonatos a diversos patógenos não relacionados, como se a vacina estimulasse o sistema imune a montar resposta contra as infecções (5-7). Esses estudos são importantes quando pensamos em políticas de vacinação eficientes, principalmente levando em consideração as regiões em que as medidas adotadas podem fazer a diferença na longevidade da criança. Em algumas regiões da África, a vacinação com BCG é realizada após um mês de vida da criança. Se esses resultados forem consistentes, a vacinação logo após o nascimento pode ajudar a combater infecções micobacterianas e inespecíficas de forma mais eficaz.


Referências:

1.Roth A, Jensen H, Garly ML, et al. Should low birth weight infants receive BCG vaccination at birth? Community study from Guinea- Bissau. PIDJ 2004; 23:544–50.
2. Aaby, P., Roth, A., Ravn, H., Napirna, B., Rodrigues, A., Lisse, I., Stensballe, L., Diness, B., Lausch, K., Lund, N., Biering-Sorensen, S., Whittle, H., & Benn, C. (2011). Randomized Trial of BCG Vaccination at Birth to Low-Birth-Weight Children: Beneficial Nonspecific Effects in the Neonatal Period? Journal of Infectious Diseases, 204 (2), 245-252 DOI: 10.1093/infdis/jir240
3. Roth A, Sodemann M, Jensen H, et al. Tuberculin reaction, BCG scar and lower female mortality. Epidemiology 2006; 17:562–8.
4. Roth AE, Garly ML, Jensen H, Nielsen J, Aaby P. Bacille Calmette Guerin vaccination and infant mortality. Expert Rev Vaccines 2006; 5:277–93.
5. MathurinKS, MartensGW, KornfeldH,WelshRM. CD4T-cell-mediated heterologous immunity between mycobacteria and poxviruses. J Virol 2009; 83:3528–39.
6. Clark IA, Allison AC, Cox FE. Protection of mice against Babesia and Plasmodium with BCG. Nature 1976; 259:309–11.
7. Lalor MK, Ben-Smith A, Gorak-Stolinska P, et al. Population differences in immune responses to Bacille Calmette-Gue´rin vaccination in infancy. J Infect Dis 2009; 199:795–800.

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