terça-feira, 10 de maio de 2011

Nanopartículas e Leishmaniose

Post de Diego Moura Santos (LIP-CPqGM/FIOCRUZ)

ResearchBlogging.orgHá quase 15 anos, Rafati e colaboradores descreveram uma fração de proteínas do SLA da forma amastigota de Leishmania, chamada de Cisteína Proteases (CPs) [1]. O grupo também mostrou que as CPs são capazes de induzir a produção de IFN-g em PBMC de humanos curados de leishmaniose cutânea [1]. Desde então, vários trabalhos foram publicados relatando a capacidade protetora destes antígenos contra diversas formas de leishmaniose.
Um dos trabalhos mais recentes analisa o potencial protetor das CPs do tipo I, II e III, encapsuladas em nanopartículas lipídicas sólidas (CPs-SLN)[2]. As nanopartículas lipídicas sólidas possuem características importantes, tais como proteção do DNA contra degradação por DNAses e lisossomos e a melhora da transfecção, pois facilitam a entrada da partícula nas células, devido a presença do colesterol. Além disso, são seguras, fáceis de armazenar e de serem produzidas em larga escala.
Com o objetivo de avaliar a capacidade protetora dos antígenos CPs nesta nova estratégia de “delivery”, camundongos BALB/c foram imunizados três vezes na pata e depois infectados com L. major GFP. Os animais imunizados com CPs-SLN apresentaram um menor tamanho de lesão comparado com o grupo que recebeu somente as CPs, mostrando que o encapsulamento dos antígenos melhorou o grau de proteção. Em relação à carga parasitária a redução foi de 86,3% no grupo que recebeu CPs-SLN, enquanto que nos animais imunizados somente com CPs a redução foi um pouco menor, 54,36%. Utilizando um sistema que capta fluorescência e fornece uma imagem precisa da extensão da infecção, os autores observaram que os animais imunizados com CPs-SLN apresentavam parasitas somente no local da inoculação, enquanto que nos grupos controles estes estavam espalhados por toda a área da pata. A explicação para uma melhora significativa no grau de proteção quando se utiliza a SLN como “delivery system” está na maior indução de uma resposta do tipo Th1, pois os camundongos imunizados com CPs-SLN apresentaram uma maior razão IFN-g/IL-5, comparados com o grupo CPs – 127,94 e 73,63 respectivamente.
Como conclusão, e extrapolando os dados do trabalho abordado acima, a ausência de novos adjuvantes que induzam um padrão de resposta Th1 e que sejam liberados para uso em humanos dificulta o trabalho dos vacinólogos, pois até o momento o único adjuvante liberado para uso em humanos é o Hidróxido de alumínio, que induz resposta do tipo Th2. Elaboradas de materiais biodegradáveis e seguras para aplicações em humanos, as partículas feitas de lipídeos, carboidratos e açúcares vêm ganhando espaço não somente no campo de vacinas, pelas suas características de adjuvantes, mas também no de tratamentos. No último caso, em função do alto custo para desenvolvimento de novas drogas, as empresas farmacêuticas estão empregando “delivery system” para melhorar a eficácia das drogas já existentes, como discutido em posts anteriores.

1. Rafati S, Couty-Jouve S, Alimohammadian MH, Louis JA (1997) Biochemical analysis and immunogenicity of Leishmania major amastigote fractions in cutaneous leishmaniasis. Clin Exp Immunol 110: 203-211.



2. Doroud D, Zahedifard F, Vatanara A, Najafabadi AR, Taslimi Y, Vahabpour R, Torkashvand F, Vaziri B, & Rafati S (2011). Delivery of a cocktail DNA vaccine encoding cysteine proteinases type I, II and III with solid lipid nanoparticles potentiate protective immunity against Leishmania major infection. Journal of controlled release : official journal of the Controlled Release Society PMID: 21530597

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