segunda-feira, 23 de maio de 2011

Contribuição de células T restritas ao CD1 específicas para ácidos micólicos em respostas imunes de memória




Post de Evelin Oliveira



ResearchBlogging.org

Vários trabalhos mostram a participação das células T não convencionais que reconhecem antígenos não peptídicos na resposta imune contra o Mycobacterium tuberculosis. Em geral, estas respostas têm sido consideradas no contexto da imunidade inata, associadas ao reconhecimento de antígenos por células T gama-delta [1]. A parede celular micobacteriana contém lipídeos antigênicos que são reconhecidos por receptores relativamente invariantes semelhantes ao complexo principal de histocompatibilidade, pertencentes à família CD1. Entre os componentes lipídicos da parede celular micobacteriana predomina o ácido micólico, importante fator de virulência que protege o bacilo contra exposição às drogas e contra o ambiente hostil do fagolisossoma, compartimento onde o bacilo permanece no macrófago. O artigo do grupo de Lalvani mostra neste trabalho publicado no JCI a participação de células T que reconhecem o ácido micólico via CD1 em respostas adaptativas, de memória, apresentando fenótipos tanto de células de memória central como de memória efetora [2].

Os autores identificaram e caracterizaram as células T CD1b+ específicas ao ácido micólico observadas em pacientes com tuberculose (TB) ativa em vários períodos antes ou após o tratamento e em pacientes com TB latente. A maioria dos pacientes com TB não tratada apresentou células T específicas ao ácido micólico. Estas células eram principalmente CD4+, embora células CD8+ e duplo-negativas também tenham sido observadas. O estímulo após depleção de células CD56+ e TCR gama-delta+ e a marcação intracelular da produção de IL-2 e IFN-gama mostrou que a resposta a ácidos micólicos é mediada por células TCR alfa-beta+. As células apresentavam predominância de fenótipo de células de memória efetora (produção simultânea de IFN-gama e IL-2 aliada a ausência de expressão de CD45RA e CCR7), porém também foram observadas células com fenótipo de células de memória central (ausência de expressão de CD45RA aliada a expressão de CCR7, produzindo ou IL-2 ou mesmo IFN-gama). Foi ainda possível expandir células produtoras de IFN-gama a partir do sangue periférico, ao colocar células mononucleares em contato com células dendríticas autólogas pulsadas com ácidos micólicos (ELISpot pós-cultivo), tanto em pacientes com TB antes do tratamento como até mais de um ano após o tratamento. A fenotipagem das células responsivas a ácidos micólicos ex vivo neste período mostrou uma população de células com fenótipo de células de memória efetora semelhante ao demonstrado como predominante antes do tratamento. Vale ressaltar que já no período de seis meses após o tratamento a frequência de células responsivas ex vivo tinha caído acentuadamente, sugerindo que a expansão de clones responsivos nestes períodos mais tardios pelo ensaio de ELISpot pós-cultivo deveu-se a uma resposta de memória.

Os autores sugerem que as células T específicas ao ácido micólico funcionam mais como parte do sistema imune adaptativo do que inato. Sendo altamente imunogênico e capaz de ativar produção de células T específicas, o ácido micólico pode ser um candidato importante como componente de vacinas de subunidades contra a tuberculose.


Referências:

[1] S. Meraviglia, S. El Daker, F. Dieli, F. Martini, A. Martino, γδ T Cells Cross-Link Innate and Adaptive Immunity in Mycobacterium tuberculosis Infection, Clin Dev Immunol. 2011 (2011).
[2] Montamat-Sicotte, D., Millington, K., Willcox, C., Hingley-Wilson, S., Hackforth, S., Innes, J., Kon, O., Lammas, D., Minnikin, D., Besra, G., Willcox, B., & Lalvani, A. (2011). A mycolic acid–specific CD1-restricted T cell population contributes to acute and memory immune responses in human tuberculosis infection Journal of Clinical Investigation DOI: 10.1172/JCI46216.

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