quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Nova vacina contra tuberculose que protege antes e após a exposição


ResearchBlogging.org
Theolis Barbosa Bessa
FIOCRUZ-Bahia
Nova vacina contra a tuberculose pode induzir proteção contra a doença tanto em indivíduos não expostos como em indivíduos infectados com tuberculose latente.
A busca por uma nova vacina contra a tuberculose é um hot-topic da moderna vacinologia e tem ocupado um bom espaço na literatura científica, atingindo revistas de alto impacto, bem como nas postagens deste blog! No artigo comentado hoje, de Aagaard e colaboradores [1], é proposta uma nova vacina que combina antígenos secretados pela micobactéria em cultura e nos estágios iniciais de infecção (Ag85B e ESAT-6), com o produto de um gene que tem sua expressão aumentada em condições de redução de nutrientes, hipóxia e infecção de macrófagos ativados, o Rv2660c. Esses antígenos são combinados em uma proteína de fusão recombinante H56 (Ag85B-ESAT6-Rv2660c) de Escherichia coli, que é formulada com um adjuvante catiônico composto por lipossomas contendo fator corda sintético, um componente da parede celular de micobactérias (CAF01) [2]. Essa vacina se assemelha à vacina recombinante de proteína de fusão H1 (Ag85B-ESAT6, formulada com o adjuvante IC31®, o poliaminoácido catiônico KLK combinado com o oligodeoxinucleotídeo de inosina-citidina em fita simples ODN1), já testada em humanos e para a qual foram observadas respostas de memória que persistiram por mais de 2 anos [3].
A proteção contra o estabelecimento da doença foi verificada em um modelo agudo de infecção de camundongos CB6F1 utilizando a cepa laboratorial virulenta M. tuberculosis Erdmann. A capacidade demonstrada de diminuição da carga bacilar após desafio com a micobactéria virulenta foi superior à observada nos mesmos experimentos por vacinação dos camundongos com o Bacilo de Calmette-Guérin, BCG, a vacina atualmente utilizada para o controle da tuberculose, e com a vacina H1 descrita acima, nas avaliações em 24 semanas após a vacinação. As diferenças observadas foram da ordem de 1 log. A H56 também funciona como booster à vacina BCG, com significativa capacidade de redução da carga bacilar em comparação com o obtido com a BCG sozinha.
A vacina H56 foi capaz de induzir forte produção de interferon-gama (IFN-γ) por estímulo in vitro de células isoladas do baço com os antígenos componentes da mesma vacina, o que também foi observado para a vacina H1 (exceto para a proteína Rv2660c, que não faz parte de sua formulação), mas não para a BCG em relação aos antígenos mencionados. Em comparação com a BCG e a H1, a H56 foi capaz de induzir maior expansão in vivo de células polifuncionais T CD4+ produtoras simultaneamente de interleucina 2 (IL-2), IFN-γ e fator de necrose tumoral (TNF) ou de combinações de 2 de quaisquer destas citocinas por estimulação com Ag85B e ESAT-6, capacidade que persistiu aumentada até 24 semanas após a vacinação. Não foi observada expansão significativa de células polifuncionais do tipo T CD8+ por imunização com a H56 e estímulo com os antígenos mencionados, e os autores não mostram dados relativos à H1 ou à BCG.
Finalmente, em um modelo de reativação onde os camundongos foram primeiramente infectados com a micobactéria virulenta e depois tratados com antibiótico por 6 semanas até a redução da carga bacilar nos pulmões a menos de 1 log, a administração da vacina após a exposição foi capaz de diminuir a carga bacilar, porém incapaz de prevenir a reativação da tuberculose (que no modelo ocorre após 22 semanas). Não foram apresentados dados quanto à capacidade relativa da vacina proposta em comparação com a H1 ou com a BCG.
O artigo abre mais uma frente na busca de melhores vacinas contra a tuberculose. Como reflexão, pode-se verificar que há a necessidade urgente de se estabelecer parâmetros e modelos suficientemente associáveis à proteção em humanos, para se avaliar de forma segura quais das novas estratégias propostas poderão efetivamente constituir boas promessas de um futuro controle da doença.
[1] C. Aagaard, T. Hoang, J. Dietrich, P. Cardona, A. Izzo, G. Dolganov, et al., A multistage tuberculosis vaccine that confers efficient protection before and after exposure, Nat Med. advance online publication (2011).
[2] E.M. Agger, I. Rosenkrands, J. Hansen, K. Brahimi, B.S. Vandahl, C. Aagaard, et al., Cationic Liposomes Formulated with Synthetic Mycobacterial Cordfactor (CAF01): A Versatile Adjuvant for Vaccines with Different Immunological Requirements, PLoS ONE. 3 (2008) e3116.
[3] J.T. van Dissel, S.M. Arend, C. Prins, P. Bang, P.N. Tingskov, K. Lingnau, et al., Ag85B-ESAT-6 adjuvanted with IC31 promotes strong and long-lived Mycobacterium tuberculosis specific T cell responses in naïve human volunteers, Vaccine. 28 (2010) 3571-3581.

Aagaard, C., Hoang, T., Dietrich, J., Cardona, P., Izzo, A., Dolganov, G., Schoolnik, G., Cassidy, J., Billeskov, R., & Andersen, P. (2011). A multistage tuberculosis vaccine that confers efficient protection before and after exposure Nature Medicine DOI: 10.1038/nm.2285

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