quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Marcadores de exposição a picada do flebotomíneo Lutzomyia longipalpis e detecção da fonte alimentar


ResearchBlogging.org
Post de Bruno Sangiorgi
A inoculação da saliva durante a picada é um fenômeno comum em insetos hematófagos, e causa, dentre outros efeitos, uma resposta imunológica contra suas proteínas. Esta resposta se caracteriza pela produção de anticorpos específicos contra a saliva do inseto, causando reações alérgicas. A análise dos anticorpos anti-saliva pode ser utilizada em correlações com o risco de desenvolver a doença transmitida pelo vetor e auxiliar a identificação de fontes alimentares. 
Contudo, é impossível testar um grande número de indivíduos usando saliva obtida de flebótomos. Um teste deste tipo necessita ser realizado com proteínas recombinantes. Para que estas relações sejam feitas, é necessária a prévia identificação de proteínas salivares específicas do inseto vetor.
Recentemente foi publicado o trabalho “Discovery of markers of exposure specific to bites of Lutzomyia longipalpis, the vector of Leishmania infantum chagasi in Latin America”. Este estudo teve como objetivo encontrar as proteínas salivares específicas do flebotomíneo Lutzomyia longipalpis, reconhecidas através de análises em soros humanos, de cães e de raposas de São Luís e Teresina, áreas endêmicas para Leishmaniose Visceral. Para tanto, em ensaios de western blot, proteínas recombinantes foram separadas em pesos moleculares distintos, ao hibridizarem com anticorpos policlonais obtidos de modelos murinos. Este padrão de proteínas foi então comparado aos apresentados por ensaios semelhantes, utilizando as proteínas recombinantes previamente obtidas, com os anticorpos presentes nos soros dos organismos abordados no trabalho.
Como resultado, das nove proteínas encontradas na saliva de L. longipalpis, LJM17 e LJM11 foram reconhecidas por soros humanos e de cães, sendo a segunda não reconhecida por soro de raposas (fig. 1). É importante notar que apesar das espécies L. longipalpis e L. intermedia ocorrerem simultaneamente em ambas as regiões, os soros dos organismos não reconheceram as proteínas salivares de L. intermedia. Juntos, estes dados confirmam a especificidade do reconhecimento em cães e humanos das proteínas LJM17 e LJM11, revelando seu alto potencial como marcador molecular a exposição ao inseto vetor.

Fig. 1: Proteínas salivares reconhecidas por soros de humanos, cães e raposas
A identificação destas moléculas representa um avanço no desenvolvimento de ferramentas moleculares como marcadores da exposição ao flebotomíneo L. longipalpis. Um estudo complementar (“Using Recombinant Proteins from Lutzomyia longipalpis Saliva to Estimate Human Vector Exposure in Visceral Leishmaniasis Endemic Areas”) relata o uso destas proteínas em ensaios de ELISA para estimar a exposição a L. longipalpis em 1.077 indivíduos. Em comparação aos ensaios utilizando as proteínas totais do sonicado de glândula salivar(SGS), as proteínas LJM17 e LJM11 foram capazes de detectar a positividade em 77% dos casos (fig. 2), não reagindo com proteínas salivares de outras espécies hematófagas.

Fig. 2: Validação da combinação de r LJM17 e rLJM11 em estimar a exposição de humanos a saliva de L. longipalpis.


Um outro aspecto da alimentação do flebótomo é o fato que anticorpos para estas proteínas podem ser encontradas no soro do hospedeiro vertebradoO fato do hospedeiro vertebrado reconhecer estas proteínas salivares, tornam-nas ferramentas úteis em estudos de detecção das fontes alimentares do flebotomíneo L. longipalpis. Deste modo, material sanguíneo coletado da fauna local, ao ser submetido a hibridização com as proteínas salivares LJM17 e LJM11, evidenciariam a exposição do organismo ao inseto vetor.
Estes estudos atualmente possuem a abordagem da identificação no inseto vetor, a partir da amplificação do DNA do hospedeiro presente no intestino do flebotomíneo. Estas amostras, consideravelmente diminutas e lábeis, são submetidas a PCR multiplex, que nem sempre possuem sucesso em amplificar o material sanguíneo, devido a ação das nucleases intestinais.
 Esta abordagem diferenciada, identificando a fonte alimentar a partir dos anticorpos presentes no hospedeiro, se apresenta como uma poderosa ferramenta nestes estudos, apresentando vantagens quanto a detecção por PCR. Temos como exemplo o conhecimento prévio das espécies amostradas, conferindo uma segurança maior quanto a caracterização da diversidade de espécies escolhidas pelos flebotomíneos. Além disso, a maior duração dos anticorpos no plasma sanguíneo poderá elevar a quantidade de amostras positivas, diminuindo a chance de falsos negativos, possivelmente apresentados pelas amplificações de DNA sanguíneo degradado.
Juntas, ambas as abordagens poderão ser utilizadas de maneira complementar, aumentando nosso conhecimento acerca da ecologia de insetos vetores e possibilitando medidas de controle na densidade de flebotomíneos, a partir de medidas efetuadas nas fontes alimentares.


Teixeira, C., Gomes, R., Collin, N., Reynoso, D., Jochim, R., Oliveira, F., Seitz, A., Elnaiem, D., Caldas, A., de Souza, A., Brodskyn, C., de Oliveira, C., Mendonca, I., Costa, C., Volf, P., Barral, A., Kamhawi, S., & Valenzuela, J. (2010). Discovery of Markers of Exposure Specific to Bites of Lutzomyia longipalpis, the Vector of Leishmania infantum chagasi in Latin America PLoS Neglected Tropical Diseases, 4 (3) DOI: 10.1371/journal.pntd.0000638


Souza, A., Andrade, B., Aquino, D., Entringer, P., Miranda, J., Alcantara, R., Ruiz, D., Soto, M., Teixeira, C., Valenzuela, J., de Oliveira, C., Brodskyn, C., Barral-Netto, M., & Barral, A. (2010). Using Recombinant Proteins from Lutzomyia longipalpis Saliva to Estimate Human Vector Exposure in Visceral Leishmaniasis Endemic Areas PLoS Neglected Tropical Diseases, 4 (3) DOI: 10.1371/journal.pntd.0000649

SANTANNA, M., JONES, N., HINDLEY, J., MENDESSOUSA, A., DILLON, R., CAVALCANTE, R., ALEXANDER, B., & BATES, P. (2008). Blood meal identification and parasite detection in laboratory-fed and field-captured Lutzomyia longipalpis by PCR using FTA databasing paper Acta Tropica, 107 (3), 230-237 DOI: 10.1016/j.actatropica.2008.06.003

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