segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ressaca II, extra immunologiam


Este post foi originalmente publicado em 14.fev.2009 no antigo site do LIMI e LIP.

A patogenia da ressaca não é bem conhecida. O envolvimento do sistema imune já foi discutido neste blog. Como salientado naquele post, há diversas limitações metodológicas para esta investigação. 
Um aspecto importante resulta do metabolismo do etanol.


A álcool desidrogenase (ADH) transforma o álcool em acetaldeído. O acetaldeído é bastante tóxico e precisa ser transformado em acetato pela aldeído desidrogenase (ALDH). Em concentração elevada o acetaldeído tem efeitos muito parecidos aos da ressaca. O problema para explicar a ressaca pela concentração de acetaldeído é que a ressaca acontece quando não há mais álcool na circulação, e assim sem acetaldeído livre.
A verdade é que sabemos muito pouco. Apesar disto afirma-se que:
A fadiga se explica pelas alterações do metabolismo hepático levando a hipoglicemia. Por isto são recomendados bebidas e alimentos doces.
A falta de apetite se deve aos agravos estomacais e gastrintestinais. Daí advém o conselho para ingerir alimentos gordurosos antes ou durante a bebida. Além de proteger o estômago, a lípida tornaria mais lenta a absorção alcóolica. Tenho colegas que quando jovens tomavam duas colheres de azeite doce (de oliva) antes de sair para a noite. Eu nunca testei.
A sensação terrível de sede, resultante de desidratação, é explicada pela ação anti-diurética do álcool. Sob efeito do álcool, eliminamos mais líquidos que ingerimos. A ingestão de 50 mL de álcool mesmo diluídos em mais 200 ml, ou seja num total de 250 mL, leva a uma perda de 600 a 1.000 mL. 
É possível calcular quantas gramas de etanol uma bebida possui. Para isso basta multiplicar o volume de álcool etílico indicado pela graduação da bebida pela densidade do etanol (aproximadamente 0,8 g/cm³) (19). Assim, 1L de cerveja a 6% (60 mL de álcool etílico) possui 48 gramas de etanol (60 mL x 0,8 g/cm³). Por outro lado, 1L de vodka a 40% (400 ml de álcool etílico) possui 320 gramas de etanol (400 ml x 0,8 g/cm³). Por isto mesmo, a dose usual de destilados é de 50 mL 
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o consumo aceitável de álcool é de até 15 doses/semana para homens e 10 doses/semana para mulheres, sendo que uma dose contém de 8 a 13 gramas de etanol. Os homens não devem ultrapassar o consumo de três doses diárias de álcool e as mulheres, duas doses diárias. No caso da ressaca, o problema é ingerir as suas 15 doses da semana em uma noite. 
E a dor de cabeça? É possível que e a desidratação esteja envolvida. Não há nada comprovado. De todo modo, beber água é recomendável.
As citocinas podem estar envolvidas em todo o processo. É possível que seja a base da antiga recomendação da aspirina para a ressaca.
Voltamos à idéia do projeto. Será que um anti-inflamatório seria a panacéia para a ressaca?

Este post tem a contribuição de Antonio Reis Filho e Bruno Andrade. Esclareço, contribuição profissional, pois num projeto em que estão envolvidos precisam aferir o consumo de álcool pelos voluntários.
Muitas informações foram obtidas do artigo Alcohol Hangover Mechanisms and Mediators, de Robert Swift, & Dena Davidson na Alcohol Health & Research World: 22,:54-60, 1998.


Ilustração.

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