quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Demência e inflamação

Um estudo do Journal of Experimental Medicine de janeiro propõe um mecanismo entre a demência e a inflamação.  O processo inflamatório tem recebido bastante atenção pois está envolvido em diversos processos nos quais não se suspeitava de sua participação. Há já algum tempo, chamou atenção que a úlcera péptica tivesse uma etiologia infecciosa. Esta descoberta resultou na concessão do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2005 a Barry J. Marshall e J. Robin Warren por sua descoberta do Helicobacter pylori e seu papel na gastrite e na úlcera péptica.
No mesmo passo, a aterosclerose, considerada como uma doença depósito de gordura, hoje é vista como resultante de inflamação. Uma revisão de Göran K. Hansson, na New England Journal of Medicine, se inicia com: “Recent research has shown that inflammation plays a key role in coronary artery disease (CAD) and other manifestations of atherosclerosis. Immune cells dominate early atherosclerotic lesions, their effector molecules accelerate progression of the lesions, and activation of inflammation can elicit acute coronary syndromes. 
Há alguns anos a relação entre inflamação e demência tem sido investigada, havendo inclusive dados epidemiológicos a este respeito.
O estudo recente do JEM relaciona a progranulina com a demência e falha nos mecanismos de defesa contra infecção. A progranulina está envolvida na supressão da inflamação, na cicatrização de lesões, desenvolvimento embrionário e tumorigênese. Mutações que levam à expressão reduzida de progranulina causam demencia frontotemporal no homem.
O estudo  de Yin e cols, mostra que a progranulina previne a lesão das células do sistema nervoso.
"To explore the role of PGRN in vivo, we generated PGRN-deficient mice. Macrophages from these mice released less interleukin-10 and more inflammatory cytokines than wild type (WT) when exposed to bacterial lipopolysaccharide. PGRN-deficient mice failed to clear Listeria monocytogenes infection as quickly as WT and allowed bacteria to proliferate in the brain, with correspondingly greater inflammation than in WT. PGRN-deficient macrophages and microglia were cytotoxic to hippocampal cells in vitro, and PGRN-deficient hippocampal slices were hypersusceptible to deprivation of oxygen and glucose. With age, brains of PGRN-deficient mice displayed greater activation of microglia and astrocytes than WT, and their hippocampal and thalamic neurons accumulated cytosolic phosphorylated transactivation response element DNA binding protein–43. Thus, PGRN is a key regulator of inflammation and plays critical roles in both host defense and neuronal integrity. FTD associated with PGRN insufficiency may result from many years of reduced neutrotrophic support together with cumulative damage in association with dysregulated inflammation."
A resposta inflamatória exagerada das células da micróglia ativada nos camundongos deficientes de progranulina levou a um aumento do dano e morte neuronal.
Os camundongos deficientes em progranulina não têm todos as características da demência frontotemporal e nem tudo que se observa em camundongos pode se transpor para o homem, mas o estudo abre perspectivas interessantes para o estudo da demência no homem.


Yin, F., Banerjee, R., Thomas, B., Zhou, P., Qian, L., Jia, T., Ma, X., Ma, Y., Iadecola, C., Beal, M., Nathan, C., & Ding, A. (2009). Exaggerated inflammation, impaired host defense, and neuropathology in progranulin-deficient mice Journal of Experimental Medicine, 207 (1), 117-128 DOI: 10.1084/jem.20091568

Um comentário:

  1. Isso dá samba!
    Inflamação é tudo de ruim
    Está por trás das doenças cardiovasculares, degenerativas músculo-esqueléticas, oncológicas, neuropsiquiátricas, dermatólógicas etc.
    Modular o nosso reostato inflamatório faz parte das providências que creio necessárias para otimizar nossa passagem pela vida.
    Como?
    Isso dá assunto para uns 100 blogs!

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