sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Controle genetico do teste de tuberculina no homem


Post de Theolis Barbosa Bessa
O artigo “Two loci control tuberculin skin test reactivity in an area hyperendemic for tuberculosis” (J. Exp. Med., Nov 2009; 206: 2583 - 2591) foi publicado com a participação (e primeira autoria) do grupo do Dr. Jean-Laurent Casanova, do Hospital Necker-Enfants Malades de Paris, com larga experiência no estudo da contribuição de fatores genéticos na resposta imune contra a tuberculose. A linha defendida por este grupo é a de que a tuberculose é uma patologia que decorre da imunodeficiência específica do indivíduo em relação ao bacilo (a qual pode envolver uma série de genes e interações entre os mesmos), com menor papel para a virulência da própria bactéria neste processo. Em acordo com essa visão do grupo, os autores chamam a atenção para a bem documentada variabilidade interindividual e interpopulacional na transição da infecção latente para a tuberculose ativa, bem como no grau de severidade da doença, além de evidências a favor de uma herdabilidade na susceptibilidade à tuberculose. A novidade neste estudo está na investigação de uma possível contribuição genética na infecção pela micobactéria. Os autores, em consonância com outros trabalhos da literatura, consideram que em áreas hiperendêmicas os indivíduos com teste tuberculínico negativo teriam a capacidade de resistir naturalmente à infecção pelo M. tuberculosis, de forma independente da ação de células T.
“There is also interindividual variability at the earlier initial step of the infectious process, as _ 20% of long-exposed persons appear to be naturally resistant to infection by M. tuberculosis ( Rieder, 1999 ). This estimate is based on the detection of M. tuberculosis –infected and –noninfected persons by means of the tuberculin skin test (TST) or Mantoux. The test measures induration of the skin after intradermal inoculation of M. tuberculosis purified protein derivative (PPD). The TST triggers a classical T cell–mediated delayed type hypersensitivity (DTH) reaction against mycobacterial antigens (Vukmanovic-Stejic et al., 2006). In hyperendemic areas for TB, a complete lack of TST reactivity is therefore suggestive of a T cell–independent resistance to infection by M. tuberculosis (Rose et al., 1995 ).”
O estudo é feito em uma população com elevada incidência de tuberculose infantil, bem como risco anual de infecção por TB, excluindo os indivíduos que tiveram a TB ativa, e incluindo 128 famílias, correspondendo a 350 irmãos. Os autores identificam duas regiões cromossômicas com forte associação com o resultado do teste tuberculínico, a região cromossômica 11p14, associada à positividade ao TST, e a região cromossômica 5p15, associada ao diâmetro da reação de induração. Outras regiões com score de associação mais fracos são também descritas. A região 5p15 apresenta um possível gene candidato com maior participação na regulação da induração ao teste tuberculínico, o SLC6A3, relacionado ao NRAMP1, uma molécula envolvida na absorção de metais a partir dos compartimentos endossomais, que foi implicada em modelos animais como importante na patogênese da tuberculose por limitar a disponibilidade do ferro para o patógeno em macrófagos, além de participar também na resistência contra outros patógenos intracelulares (uma boa revisão é a de Cellier e cols em 2007, na Microbes and Infection). 
Comentário: Em minha opinião, o ponto de maior discussão seria como estes achados estariam realmente relacionados à susceptibilidade ou não à doença tuberculosa. Indivíduos doentes podem ter TST abaixo do limiar de 10mm, justificado por muitos autores como um recrutamento dos linfócitos T específicos para o sítio de infecção. Poderia essa característica estar sinalizando indivíduos próximos da transição para a tuberculose ativa, nessa população que é colocada pelos próprios autores como susceptível à doença? Ou ao contrário, estar sinalizando a importância exatamente da resposta de células T recrutadas (e, portanto, não-detectadas) no combate ao bacilo? Por outro lado, não conheço trabalhos que relacionem a extensão da reação de induração face ao TST com maior susceptibilidade ao bacilo, apenas com probabilidade de infecção realmente pelo M. tuberculosis, e condições onde os indivíduos podem estar expostos a outras micobactérias. Conheço trabalhos que colocam a possibilidade de relação entre esse diâmetro de induração e a ocorrência de manifestações alérgicas. 


Cobat, A., Gallant, C., Simkin, L., Black, G., Stanley, K., Hughes, J., Doherty, T., Hanekom, W., Eley, B., Jais, J., Boland-Auge, A., van Helden, P., Casanova, J., Abel, L., Hoal, E., Schurr, E., & Alcais, A. (2009). Two loci control tuberculin skin test reactivity in an area hyperendemic for tuberculosis Journal of Experimental Medicine, 206 (12), 2583-2591 DOI: 10.1084/jem.20090892

Cellier, M., Courville, P., & Campion, C. (2007). Nramp1 phagocyte intracellular metal withdrawal defense Microbes and Infection, 9 (14-15), 1662-1670 DOI: 10.1016/j.micinf.2007.09.006
ResearchBlogging.org

Nenhum comentário:

Postar um comentário