sábado, 18 de abril de 2009

Gens anti-envelhecimento: gens das sirtuinas

O elixir da juventude parece estar próximo. Por outro lado, o elixir será, provavelmente, da Glaxo Smith Kline, pelo que os candidatos ao uso devem começar a poupar. O elixir da longa vida não é resultado do trabalho de estudo da fisionomia de gêmeos. Dito de forma cruel, não é trabalho de cirurgião e sim de bioquímicos. Um artigo do Trends in Biochemical Sciences diz que as sirtuinas são a ligação entre disfunção mitocondrial, doenças metabólicas e envelhecimento.

Nos último anos, a pesquisa em envelhecimento seguiu três caminhos. Um deles é o efeito da restrição calórica e longevidade, demonstrado em diversas espécies. Uma segunda linha, buscava os gens mais envolvidos na esperança de vida. O terceiro caminho seguia o rumo que liga as doenças do envelhecimento com a biologia da senescência.

As sirtuinas são um grupo de proteínas cujos gens apresentam uma correlação positiva com longevidade, ou seja são gens anti-envelhecimento. As sirtuinas regulam importantes aspectos da biologia da mitocôndria e estas organelas têm sido relacionadas com envelhecimento e doenças do envelhecimento. O resveratrol (a substância do vinho tinto relacionada com os seus efeitos benéficos) é um ativador natural das sirtuinas. Assim, as sirtuinas podem ser o enlace entre as três vertentes da pesquisa em envelhecimento.

Além do mais, as sirtuinas são uma classe de enzimas passível de ser transformada em drogas, já que são alvo de intervenção com moléculas pequenas. Do resveratrol se originaram várias moléculas, os ativadores de sirtuinas, algumas bem mais potentes que o resveratrol, e muitas delas em ensaios clínicos de fase 2.

A Glaxo Smith Kline investiu somas enormes nos ativadores de sirtuinas e espera vendê-los como medicamentos contra as doenças da velhice. A esperança é que ao combater o diabetes e outros problemas metabólicos se possa prevenir doenças cardiovasculares, Alzeimer etc.

O aumento da expectativa de vida desde o início do século XX até hoje se deveu ao extremo sucesso da ciência ocidental sobre as doenças infecciosas através de vacinas, antibióticos e saneamento da água. A despeito do importante aumento da média de vida, não houve um aumento proporcional da vida máxima do homem. Continuam sendo muito poucos os indivíduos que superam os 110 anos (talvez não mais que 25 dos 6,8 bilhões de pessoas existentes hoje, segundo o National Aging Institute - NIH). Parece estarmos próximos de outra grande era na conquista de uma vida mais longa para o homem. A dúvida é se o planeta suporta esta espécie já tão numerosa e que parece decidida a viver por longo tempo. Que número poderemos atingir?

Desde 1935 se sabe que a restrição calórica prolonga a vida. A restrição calórica eleva os níveis de NAD o que estimula a atividade de SIRT1, a principal sirtuína. Isto ocorre em várias espécies, de leveduras a camundongos. Um único gen aumenta a longevidade numa ampla gama de espécies o que reforça sua importância. Adicionalmente, a restrição calórica aumenta a média da vida e também a vida máxima.

O uso de um ativador de sirtuínas, o SRT1720, em camundongos, confere todos os benefícios da dieta de poucas calorias: preveniu a obesidade em animais mantidos por 10 semanas em dieta hiperlipídica e evitou o desenvolvimento da resistência à insulina, numa publicação do grupo de Johan Auwerx de novembro passado na Cell Metabolism. Em 2009, o grupo tem uma publicação de SIRT1 e gasto energético na Nature. Em condições de pouca comida os mecanismos de prolongamento da vida são ativados, o que favorece a sobrevivência da espécie. Como no final dos San Firmines: “Pobre de mí”, como farei com a minha fome indomável?

Há uma excelente reportagem recente do El País neste tema.

Para aspectos científicos pode começar por alguns artigos da Science, em 2009, como Stress Response and Aging e Stress-Inducible Regulation of Heat Shock Factor 1 by the Deacetylase SIRT1.

Stress Response and Aging. Laura R. Saunders and Eric Verdin. Science 323:1021-1022, 2009 DOI: 10.1126/science.1170007

Ilustração: Jeanne Clement que, aos seus 13 anos, conhecera Vincent van Gogh e permanecia viva no centenário da morte (1990). Nascida em 1875 faleceu em 1997 com 122 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário